É isso que acontece com o corpo quando se passa muito tempo sem tomar sol

O Brasil é conhecido como o “país do sol”, afinal, temos clima tropical e dias ensolarados praticamente o ano todo. Só que, na prática, muita gente passa a maior parte do tempo em escritórios, shoppings, ônibus lotados ou até dentro de casa, especialmente quem trabalha de forma remota. Resultado: horas e horas sem ver a cara do sol, o que pode parecer normal, mas a longo prazo cobra um preço do corpo.

A endocrinologista Paula Fabrega, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, lembra que não existe uma regra única sobre quanto tempo sem sol é necessário para causar prejuízos. “A idade, a cor da pele e até o lugar onde a pessoa mora fazem diferença. Não é igual pra todo mundo”, explica. Quem vive em cidades mais nubladas ou passa semanas sem sair ao ar livre já pode notar queda na produção de vitamina D.

O que acontece no corpo sem a luz do sol

Quando falta vitamina D, que é sintetizada principalmente a partir da exposição solar, vários sistemas do organismo começam a sentir. Ossos ficam mais frágeis, aumentando o risco de osteoporose e até fraturas inesperadas. Em crianças, pode aparecer o raquitismo, um problema que parecia coisa do passado, mas ainda existe. Nos músculos, a ausência dessa vitamina causa dores e uma sensação de fraqueza chata, que muita gente confunde com simples cansaço.

A imunidade também vai pro chão. Quem está com deficiência de vitamina D pode pegar gripes e infecções com mais facilidade. Há ainda estudos que relacionam a falta dessa substância com doenças crônicas sérias, como diabetes tipo 1, esclerose múltipla, alguns tipos de câncer e até complicações cardiovasculares.

Paula explica: “Os receptores da vitamina D estão espalhados por vários tecidos e órgãos, não é só nos ossos. Isso ajuda a entender porque a carência dela mexe com tanta coisa no corpo”.

Sinais que merecem atenção

O problema é que, na maioria dos casos, a falta de vitamina D não dá sinais óbvios. Muitas vezes a pessoa só descobre fazendo exame de sangue. Mesmo assim, alguns sintomas podem levantar suspeita: fadiga constante, dores musculares que não passam, fraqueza e até fraturas “sem motivo aparente”.

O dermatologista Luciano Morgado, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), lembra que os efeitos diretos na pele são menos comuns, mas podem aparecer. “Podemos ver ressecamento, pequenas inflamações como o eczema, demora na cicatrização e até queda de cabelo em alguns casos”, comenta. Ainda assim, ele reforça que o impacto mais forte se dá na massa óssea, algo que pode ser identificado em exames como a densitometria.

A vida moderna e o sol que falta

Curioso é perceber como o estilo de vida moderno tem afastado a gente do sol. Durante a pandemia, por exemplo, milhões de brasileiros ficaram meses dentro de casa, e os médicos já relatavam aumento nos casos de deficiência de vitamina D. Hoje, mesmo com a rotina “normalizada”, muitos seguem presos em ambientes fechados.

O paradoxo é que, ao mesmo tempo, campanhas de conscientização alertam sobre os riscos do excesso de sol sem proteção, já que o Brasil lidera índices de câncer de pele. Então, como equilibrar? Especialistas recomendam de 15 a 30 minutos de sol por dia, preferencialmente nos horários antes das 10h ou depois das 16h. Não precisa exagerar nem se expor como se estivesse de férias em Copacabana.



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