A entrevista dada por Michelle Bolsonaro ao jornal britânico The Telegraph sacudiu os bastidores da política brasileira na última semana. O motivo? A ex-primeira-dama afirmou que, se fosse preciso, toparia concorrer à Presidência da República em 2026. Uma declaração e tanto, mas que não caiu nada bem dentro do próprio clã Bolsonaro. Logo depois, em conversas reservadas, Jair Bolsonaro fez questão de deixar claro: Michelle pode até se candidatar, mas ao Senado Federal, não ao Planalto. A informação foi trazida pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Divergências em casa e fora dela
Entre aliados próximos, o comentário de Bolsonaro soou como um sinal de incômodo. Afinal, mesmo barrado pela Justiça Eleitoral, ele não gosta nem de pensar em ver seu nome escanteado da disputa presidencial. Desde antes de sua prisão — um episódio que ainda gera debates quentes nas redes e nas rodas políticas — o ex-presidente já vinha defendendo que a esposa se lançasse ao Senado pelo Distrito Federal. Pesquisas recentes reforçam a estratégia: Michelle aparece bem posicionada e com força no eleitorado mais conservador.
Na entrevista ao Telegraph, Michelle chegou a usar uma metáfora que ganhou manchetes: disse estar pronta para “se levantar como uma leoa na defesa dos nossos valores conservadores”. O jornal inglês não perdeu tempo e a descreveu como “potencial sucessora do marido”, levantando a hipótese de que poderia, sim, disputar a presidência no lugar de Bolsonaro.
O recuo público
Três dias depois, entretanto, veio o recuo. Durante um evento do PL Mulher em Ji-Paraná, Rondônia, Michelle mudou o tom. Disse não querer ser presidente, mas sim primeira-dama novamente. Sua fala foi cercada de emoção e carregada de apelo às mulheres:
— Nós somos mulheres que acolhem, que ajudam, que alimentam e cuidam dos nossos como verdadeiras leoas. Defenderemos nossa família. Meu marido está dentro de casa, mas, se ele quiser, eu serei a voz dele pelos quatro cantos do Brasil — declarou, arrancando aplausos de apoiadoras.
O episódio mostra como o campo político da direita continua em ebulição. Enquanto Lula segue tocando o governo em meio a crises de popularidade e embates com o Congresso, a família Bolsonaro busca ajustar o tabuleiro para 2026.
O papel da família Bolsonaro
Flávio Bolsonaro, senador e filho mais velho do ex-presidente, tratou de minimizar a repercussão. Para ele, a fala de Michelle não passou de um desabafo. “Que mulher não ficaria revoltada ao ver o marido colocado em cativeiro, como aconteceu com meu pai?”, disse, em tom de defesa. Flávio também fez questão de reforçar que ainda “não é hora” de discutir nomes para substituir Jair em 2026. Segundo ele, a prioridade é reverter a inelegibilidade do ex-presidente, um tema que deve dominar as pautas jurídicas e políticas nos próximos meses.
Contexto mais amplo
Esse tipo de vai-e-vem não é novidade no bolsonarismo. Desde 2018, quando Michelle ganhou projeção nacional ao discursar em Libras na posse do marido, ela tem sido vista como figura estratégica para manter o vínculo da família com setores religiosos e conservadores. Agora, com Bolsonaro afastado das urnas, seu papel parece ainda mais central.
Vale destacar que o movimento ocorre em um cenário político turbulento. A recente crise envolvendo os combustíveis e os embates do governo Lula com o centrão têm ocupado espaço nos jornais, mas qualquer gesto vindo da família Bolsonaro continua tendo peso e reverberação. Não à toa, a simples menção de Michelle como possível candidata à presidência mobilizou análises, especulações e até memes nas redes sociais.
Em resumo, a entrevista ao Telegraph, seguida do recuo em Rondônia, expõe tanto as ambições quanto as cautelas do núcleo bolsonarista. Michelle se coloca como voz ativa, mas ainda não há consenso sobre até onde ela deve ir. O certo é que, no xadrez de 2026, o nome dela já está sobre a mesa — seja como candidata ao Senado, seja como símbolo de continuidade de um projeto político que ainda divide o Brasil de ponta a ponta.