Risco à economia dos EUA foi ponto crucial para Trump mudar sua postura sobre Lula e o Brasil; entenda

A estratégia de Donald Trump em relação ao Brasil parecia estar dando tiro pela culatra. Em vez de fortalecer Jair Bolsonaro, ajudando o ex-presidente a escapar da prisão ou até abrir caminho pra uma possível candidatura em 2026, as tarifas e sanções impostas pelos EUA estavam acelerando justamente o oposto: a condenação de Bolsonaro e, de quebra, fortalecendo a popularidade de seu adversário histórico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O curioso é que a economia brasileira vinha aguentando o tranco melhor do que se esperava. Enquanto isso, empresários de peso desembarcavam em Washington nas últimas semanas para reclamar diretamente na Casa Branca sobre o risco de a inflação americana ser puxada pra cima pelos preços do café, da carne bovina e de outras commodities brasileiras.

Trump, que já mostrou ser um político imprevisível, decidiu mudar o rumo. O encontro relâmpago com Lula na ONU, onde ele disse que os dois tinham “uma excelente química”, não foi um simples acaso. Longe disso. Segundo bastidores revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo, houve toda uma costura política que envolveu o enviado especial Richard Grenell, que inclusive fez uma visita discreta a Brasília. Só que o sigilo não durou muito, e a notícia estourou na imprensa poucos dias depois.

Agora, o plano é que Trump e Lula voltem a conversar, talvez por telefone ou videoconferência. Caso o clima se mantenha razoável, até um encontro pessoal pode sair. Mas aí vem a pergunta que todo mundo se faz: Trump está realmente disposto a construir uma ponte com Lula, ou só preparando terreno para uma futura humilhação pública, como já fez com líderes como Volodymyr Zelensky ou Cyril Ramaphosa?

O cenário mais plausível é que Trump queira apenas baixar um pouco a temperatura. Ele já entendeu, a essa altura, que Bolsonaro não tem chance real de voltar ao jogo político no ano que vem. Os processos contra o ex-presidente são pesados, e mesmo seus aliados mais fiéis, nos bastidores, já admitem que não há espaço em Brasília para um “milagre jurídico”. Ainda assim, Trump não vai largar a mão da família Bolsonaro, porque vê no caso brasileiro uma espécie de espelho do que ele próprio enfrentou nos EUA com as investigações e processos que chama de “caça às bruxas”.

Uma saída de meio-termo seria manter tarifas altas — algo em torno de 50% — mas abrir exceções para uma lista maior de produtos. Ao mesmo tempo, seguir com sanções contra figuras como Alexandre de Moraes e sua esposa, sem, porém, estender o cerco a outros ministros ou políticos brasileiros. Isso garantiria que a Casa Branca não perdesse totalmente a postura dura, mas também aliviaria a pressão sobre a economia.

Tudo isso poderia criar espaço para algum tipo de negociação política interna no Brasil: reduzir penas, aprovar uma anistia ou, no mínimo, deixar Bolsonaro cumprir pena em casa, já que sua saúde não anda das melhores.

Diplomatas de ambos os lados sabem que esse é um terreno delicado. Trump e Lula são líderes temperamentais, cada um com seus fiéis escudeiros que incentivam o confronto. Basta uma frase mal colocada para azedar qualquer tentativa de aproximação.

Mesmo assim, existe margem pra acordo. E o ponto-chave pode ser os minerais críticos, em especial as terras raras. O Brasil tem uma das maiores reservas do mundo, atrás apenas da China, e os EUA têm interesse declarado em reduzir sua dependência de Pequim. Lula, por sua vez, poderia usar esse trunfo para atrair investimentos americanos.

Outras pautas também estão sobre a mesa: a regulação de plataformas digitais, que preocupa gigantes do Vale do Silício, e até a crise do Haiti, que segue impactando diretamente os EUA com a emigração em massa.

No fim, é improvável que Lula e Trump virem grandes aliados ou que a relação fique marcada por apertos de mão solenes em Mar-a-Lago. Mas ambos têm algo a ganhar: Trump pode se afastar de uma estratégia fracassada e Lula pode neutralizar parte da interferência externa em sua campanha.

Ironicamente, sem Bolsonaro na disputa, Lula talvez enfrente mais dificuldades em 2026 do que se o ex-presidente fosse candidato. Mas, pelo menos por agora, há uma chance de am



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