Durante o lançamento da biografia da filha, Gabriela Duarte, em um evento movimentado em São Paulo, a veterana Regina Duarte voltou a ser assunto — e não apenas por causa do livro. A atriz, que marcou gerações com seus papéis na televisão brasileira, aproveitou o momento para comentar sobre a nova versão de “Vale Tudo”, novela que está chegando ao fim na Globo e vem dividindo opiniões entre o público e os nostálgicos da teledramaturgia.
Regina, que foi a primeira intérprete de Raquel, protagonista da versão original exibida em 1988, não escondeu uma certa insatisfação com o uso do mesmo título da obra clássica. Para ela, a releitura poderia ter seguido outro caminho. Em entrevista ao colunista Marcos Bulques, a atriz elogiou o empenho da nova geração, mas deixou claro que há diferenças marcantes entre o espírito da novela original e o que está sendo mostrado agora. “Faltou um pouco da alma daquela época, sabe? O Brasil era outro, as pessoas viam televisão de um jeito diferente. Talvez por isso eu ache estranho usar o mesmo nome”, comentou, com aquele tom meio nostálgico que só quem viveu o auge da teledramaturgia dos anos 80 entende.
Além disso, Regina Duarte também falou sobre as declarações recentes de Antônio Fagundes, seu colega de longa data. Em uma entrevista dada em Portugal, o ator — que contracenou com Regina em produções marcantes — afirmou que não guarda mágoas dela, mas a considera “equivocada” em relação às posições que defende atualmente. “Ela foi uma excelente companheira, equivocada naturalmente sob o meu ponto de vista, mas ela tem um monte de gente que apoia a posição dela, e eu respeito”, disse Fagundes, de forma elegante, mas firme.
A resposta de Regina veio logo, e de um jeito surpreendentemente doce. Sem entrar em polêmicas ou rebater com ironias, ela escolheu o caminho da leveza. “Ele foi muito carinhoso comigo, e eu estou muito feliz”, declarou. E completou com um toque pessoal: “Fagundes, beijão, querido, parceirão”.
O clima amistoso entre os dois artistas contrasta com a tensão que costuma dominar o noticiário sobre figuras públicas que se posicionam politicamente. Regina, que nos últimos anos enfrentou críticas por suas opiniões, parece agora mais tranquila, disposta a deixar o passado onde ele deve estar. O lançamento da biografia de Gabriela, aliás, foi um momento simbólico disso — uma mistura de passado e presente, mãe e filha dividindo os holofotes em uma fase de reconciliação com a própria história.
Enquanto isso, nas redes sociais, o público também não deixou o assunto passar batido. Alguns fãs elogiaram a postura de Regina, chamando-a de “classe pura”. Outros, mais críticos, voltaram a levantar o debate sobre a relação entre arte e política. “Ela foi e sempre será a Raquel. O resto é opinião”, escreveu um internauta.
Vale lembrar que o remake de “Vale Tudo” vem sendo alvo de comparações intensas. A novela original, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, foi um fenômeno cultural e eternizou personagens como Raquel, Maria de Fátima e Odete Roitman. A nova versão, embora tecnicamente impecável, enfrenta o peso do legado e o olhar exigente de quem viveu a era de ouro da TV.
No fim das contas, Regina Duarte parece encarar tudo com serenidade. Aos 76 anos, a atriz que marcou época com papéis icônicos continua sendo uma figura que desperta opiniões fortes — tanto de amor quanto de discordância. E talvez seja justamente isso o que a torna uma das personagens mais fascinantes da vida real brasileira: alguém que, entre aplausos e críticas, nunca deixou de ser autêntica.