O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a causar comentários nesta quarta-feira, 8 de outubro, depois de afirmar que a derrubada da medida provisória que aumentava tributos e ampliava a arrecadação “não é uma derrota do governo, mas sim uma derrota do povo brasileiro”. A fala veio logo após a Câmara dos Deputados retirar a MP da pauta por 251 votos a 193 — o que, na prática, fez o texto perder validade antes mesmo de ser votado no mérito.
Nos bastidores, o clima ficou pesado. A articulação contra a medida partiu principalmente de partidos do Centrão e da oposição, que aproveitaram o momento pra marcar posição e mostrar força política. No Palácio do Planalto, a decisão foi vista como um revés direto para o governo e, especialmente, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que vinha tentando segurar as pontas nas contas públicas e mostrar que ainda há espaço pra equilibrar o orçamento sem abrir mão de programas sociais.
Lula, como de costume, não deixou barato. Em nota divulgada pela Presidência, o petista argumentou que a MP “corrigia injustiças do sistema tributário” e que sua rejeição representa uma escolha contra o povo. Segundo ele, o texto buscava fazer com que quem ganha mais pagasse mais, reduzindo as distorções que há anos deixam o peso maior nas costas de quem ganha pouco. “O que está por trás dessa decisão”, disse Lula, “é a aposta de que o país vai arrecadar menos pra limitar políticas públicas e programas sociais que beneficiam milhões de brasileiros. É jogar contra o Brasil.”
Pra muita gente, a fala soa mais como um discurso político do que um diagnóstico econômico. O fato é que o governo está pressionado — o equilíbrio fiscal virou uma espécie de calcanhar de Aquiles. A equipe econômica tenta mostrar responsabilidade e comprometimento com as metas, mas a base parlamentar não tem se mostrado tão alinhada quanto o Planalto gostaria.
Alguns deputados e analistas argumentam que o governo está insistindo em resolver o problema fiscal com mais impostos, quando o correto seria cortar gastos e rever prioridades. A narrativa de “aumento de arrecadação” não cola tão fácil num momento em que o custo de vida segue alto e o brasileiro médio sente no bolso até o preço do arroz, que voltou a subir depois das enchentes no Sul.
Fernando Haddad, por sua vez, tem defendido que sem recompor as receitas, o país corre o risco de descumprir o arcabouço fiscal e perder credibilidade no mercado. E isso, no fim das contas, pesa sobre os juros, sobre o investimento e até sobre a geração de empregos. É um jogo de xadrez complicado, onde cada movimento tem um custo político alto.
Nos corredores de Brasília, o assunto ainda vai render. Deputados comentam que o governo perdeu a mão na articulação política e que o Centrão, mais uma vez, mostrou quem manda. Já aliados mais próximos do presidente dizem que a oposição quis criar um fato político pra desgastar o governo num momento em que o cenário econômico começa a dar sinais tímidos de recuperação.
Enquanto isso, Lula tenta manter o discurso de que o governo continua comprometido com a “justiça tributária” e com o desenvolvimento social. “Não é o governo que perde, é o povo”, repetiu em um tom quase de desabafo. A frase ecoa entre seus apoiadores e adversários, cada um interpretando do seu jeito — o que, no fundo, é o retrato fiel da política brasileira atual: ninguém quer ficar com a conta, mas todo mundo quer dizer que está do lado do povo.