CV tem regras rígidas de segurança para proteger Doca; veja quais são

A Complexa Rede de Segurança do Comando Vermelho e a Megaoperação Contenção

Recentemente, uma série de conversas interceptadas e documentos obtidos pela Polícia Civil do Rio de Janeiro expuseram um esquema de segurança bastante elaborado criado pelo Comando Vermelho, visando proteger Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, considerado uma das principais figuras da facção criminosa. Os detalhes revelados foram cruciais para a realização da megaoperação intitulada “Contenção”, que ocorreu na última terça-feira, dia 28, e que se tornou uma das mais letais da história do Brasil.

Atualmente, Doca se encontra foragido, e a polícia está em busca dele, oferecendo uma recompensa de R$ 100 mil para informações que possam levar à sua captura. Um cartaz foi divulgado esta semana, apresentando a imagem e os dados do líder do tráfico, com o objetivo de intensificar o cerco contra ele.

Regras Rigorosas do Comando Vermelho

As investigações realizadas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e o setor de inteligência da Polícia Civil revelaram que Doca seguia uma série de normas rigorosas impostas por seus próprios parceiros criminosos. Um dos principais mandamentos era a proibição da entrada de homens armados na residência onde ele se escondia. Essa regra, aparentemente simples, reflete o nível de organização e controle que a facção exerce sobre suas atividades e membros.

O responsável pela segurança direta de Doca era Samuca, além de Tizil, dois traficantes de confiança que garantiam que todas as diretrizes fossem seguidas. O controle de acesso à casa do líder do tráfico era supervisionado por Carlos da Costa Neves, conhecido como “Gardenal”, que atuava como gerente-geral do tráfico no Complexo da Penha e tinha a responsabilidade de expandir a influência da facção na Grande Jacarepaguá. Gardenal tinha um papel fundamental, definindo a escala dos seguranças e controlando quem poderia entrar na residência.

Em uma mensagem interceptada, Gardenal deixou claro que a segurança do líder era uma prioridade: “Rapizada pegar a visão 2 aqui, portão do pai. Ninguém entra armado aqui dentro da casa e ninguém entra sem autorização.” Essa frase ilustra bem a disciplina e a hierarquia interna do Comando Vermelho.

Os Impactos da Operação Contenção

A operação “Contenção” se converteu em um marco, resultando na morte de 117 suspeitos durante os confrontos nos complexos do Alemão e da Penha. Durante uma coletiva de imprensa realizada na sexta-feira, dia 31, o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, apresentou os dados da operação. Até o momento, 99 corpos foram identificados, sendo que 42 deles possuíam mandados de prisão pendentes. O número de indivíduos com histórico criminal é alarmante, atingindo 78 até agora, e a expectativa é que esse total aumente à medida que mais informações cheguem de outros estados.

Entre as vítimas, um dado que chama atenção é que 40 eram de fora do Rio de Janeiro, com origens variadas: 13 do Pará, 7 do Amazonas, 6 da Bahia, 4 do Ceará, entre outros. Isso demonstra como o Comando Vermelho tem conseguido atrair e abrigar lideranças criminosas de diversas regiões do Brasil, refletindo o alcance nacional da facção.

Uma Máquina de Drogas

As investigações também indicam que os complexos do Alemão e da Penha atuavam como centros de comando e logística para a facção, onde os criminosos recebiam treinamento em armamento, uso de explosivos e táticas de combate. É estimado que a facção movimentava até 10 toneladas de drogas por mês, além de negociar cerca de 50 fuzis mensalmente. Essas comunidades não serviam apenas como pontos de distribuição, mas também como polos de operação que atendiam a pelo menos 24 outras comunidades do Rio, incluindo locais conhecidos como Rocinha, Maré e Jacarezinho.

Relatório em Andamento

Com o intuito de aprofundar ainda mais as investigações, a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) estão finalizando um relatório de inteligência que terá mais de 100 páginas, detalhando a estrutura hierárquica do Comando Vermelho e o papel estratégico dos complexos da Penha e do Alemão dentro da facção. Até o momento, 89 corpos foram liberados para os familiares, enquanto os esforços para identificar os demais continuam em andamento.

O cenário atual revela não apenas a complexidade da atuação do Comando Vermelho, mas também a necessidade de um esforço contínuo por parte das autoridades para desmantelar essa rede criminosa que se espalha por todo o Brasil.