Tchéky Karyo, o eterno vilão de Hollywood e astro francês, falece aos 72 anos

O cinema europeu perdeu um de seus rostos mais emblemáticos nesta sexta-feira, 31 de outubro. O ator franco-turco Tchéky Karyo, conhecido pela intensidade de suas interpretações e pela carreira extensa que atravessou décadas, morreu aos 72 anos, vítima de um câncer. A notícia foi confirmada pela família em um comunicado emocionado.

Valérie Keruzoré, sua esposa, e seus filhos comunicam com pesar a passagem de Tchéky Karyo, falecido nesta sexta-feira, 31 de outubro, em decorrência de um câncer”, diz a nota oficial, que rapidamente se espalhou pela imprensa francesa e pelas redes sociais, onde fãs e colegas de profissão deixaram mensagens de despedida.

Nascido em Istambul, em 1953, Karyo tinha origens turcas, mas foi na França que construiu sua carreira e se tornou um dos nomes mais respeitados do cinema europeu. Ao longo de mais de quatro décadas de atuação, ele participou de mais de 80 filmes, transitando entre dramas, thrillers e produções de ação com a naturalidade de quem nasceu para as câmeras.

O reconhecimento começou a vir no fim dos anos 1980, quando protagonizou o filme “O Urso” (1988), dirigido por Jean-Jacques Annaud. No longa, ele interpretou um caçador em meio à natureza selvagem, numa performance que chamou atenção pela mistura de brutalidade e sensibilidade. Dois anos depois, ele consolidaria seu nome definitivamente com “Nikita: Criada para Matar” (1990), de Luc Besson, em que viveu um agente implacável — um papel que o colocaria entre os atores mais requisitados da França.

Mas Karyo nunca se prendeu a rótulos. Quem acompanhou sua trajetória lembra também de suas incursões em produções internacionais e de participações em filmes americanos, como “Bad Boys”, ao lado de Will Smith, e “Joana D’Arc”, novamente sob a direção de Luc Besson. Ele tinha aquele tipo de presença de cena que não precisava de muito para impor respeito — bastava um olhar, uma pausa, uma fala dita no tom certo.

Pouca gente sabe, mas Karyo também teve uma ligação curiosa com o cinema brasileiro. Em 1995, ele participou do filme “Terra Estrangeira”, dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, que se tornou um marco da retomada do cinema nacional. A parceria reforçou o quanto ele era um artista aberto a novas experiências e culturas.

Nos últimos anos, o ator voltou a ganhar destaque internacional ao interpretar Julien Baptiste na série “The Missing” e, mais tarde, no spin-off “Baptiste”, da BBC. O papel de um investigador experiente, com um ar melancólico e profundamente humano, acabou se tornando um dos mais marcantes de sua carreira recente.

Amigos próximos descrevem Karyo como um homem tranquilo, reservado, mas com um senso de humor fino e uma paixão quase obsessiva pelo ofício. Segundo pessoas ligadas à família, ele vinha lutando contra o câncer de forma discreta, longe dos holofotes, mas sempre trabalhando quando a saúde permitia.

A morte do ator provocou uma onda de homenagens. O Ministério da Cultura da França publicou uma nota destacando sua contribuição para o cinema nacional e o descrevendo como “um intérprete raro, que unia força e delicadeza em cada papel”. Nas redes sociais, colegas como Jean Reno e Juliette Binoche lamentaram a perda e relembraram momentos de bastidores.

Tchéky Karyo deixa uma filmografia rica, atravessando gerações e estilos. Um artista que nunca buscou o estrelato fácil, mas que construiu sua reputação com talento, consistência e uma entrega quase poética ao trabalho. Sua partida encerra um capítulo importante da história do cinema francês — e europeu como um todo.

Mesmo fora das telas, o legado de Karyo continua vivo, seja nos personagens que criou, seja na inspiração que deixou para novos atores que ainda o têm como referência. Um adeus silencioso, mas cheio de significado, como era o próprio Tchéky.



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