Operação do MPRJ Alvo de Rogério de Andrade: O Bicheiro que Domina o Jogo do Bicho no Rio
Na manhã desta terça-feira, dia 4, o MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) lançou uma operação significativa para desmantelar uma rede de jogo do bicho que supostamente tem ligações com Rogério de Andrade, uma figura proeminente e controversa no cenário do crime organizado fluminense. O que torna essa operação tão relevante é que Rogério não é apenas um bicheiro qualquer, mas sim um dos maiores nomes da contravenção do estado.
Mandados de Busca e Apreensão
A operação incluiu a execução de 16 mandados de busca e apreensão em diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro. Esses locais estão associados à organização criminosa que Rogério lidera, focada na exploração de jogos de azar, uma atividade que é tanto lucrativa quanto ilegal no Brasil. Essa ação é o resultado de um Procedimento Investigatório Criminal que está em andamento no GAECO/MPRJ — o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.
Desdobramentos da Operação Safari
Esse movimento do MPRJ não é um caso isolado; trata-se de um desdobramento da chamada Operação Safari, realizada em fevereiro deste ano. Durante essa operação anterior, os agentes conseguiram fechar 50 pontos de jogo do bicho que estavam sob o controle da organização de Andrade, resultando na detenção de várias pessoas e na apreensão de uma quantidade significativa de materiais relacionados a essa atividade ilegal. Naquela ocasião, 50 indivíduos foram detidos e a operação contou com o apoio de 50 viaturas e 100 agentes.
Quem é Rogério de Andrade?
Rogério de Andrade, uma das figuras mais icônicas do jogo do bicho, foi preso em 29 de outubro de 2024, em sua residência na Barra da Tijuca. Ele está atualmente detido no Presídio Federal de Campo Grande, localizado em Mato Grosso do Sul. As acusações contra ele não são leves; ele é suspeito de ter cometido homicídio qualificado de outro contraventor, Fernando Iggnácio, que foi assassinado em novembro de 2020 em um heliponto na zona oeste do Rio de Janeiro.
A denúncia do MPRJ contra Rogério pelo crime ocorreu em março de 2021, e ele já havia sido alvo de outras operações que visavam um grupo de extermínio associado ao jogo do bicho. Rogério é sobrinho de Castor de Andrade, o primeiro bicheiro a ganhar notoriedade no Rio, e assumiu os negócios da família após a morte do tio em 1997. Essa sucessão não foi tranquila, tendo sido marcada por uma violenta disputa pelo controle do império familiar.
Conflitos e Heranças
Rogério, que era o braço direito de Castor, deveria dividir a administração dos negócios com o filho de seu tio, Paulo Roberto de Andrade, e com o ex-cunhado, Fernando Iggnácio. No entanto, após o assassinato de Paulinho em 1998, Rogério se tornou o único herdeiro do império, que incluía empresas, uma escola de samba e a exploração do jogo do bicho, incluindo máquinas caça-níqueis e bingos.
Desde a década de 1970, havia uma tentativa de dividir os territórios entre os bicheiros para minimizar conflitos, mas com o passar do tempo, as novas gerações começaram a entrar em disputas novamente. Atualmente, Rogério se vê em uma guerra aberta contra Bernardo Bello, outro bicheiro que também herdou o controle de uma região após disputas familiares. Outros nomes proeminentes nesse novo cenário incluem Adilson Coutinho Oliveira Filho, conhecido como Adilsinho, e Vinicius Drumond, filho de Luizinho Drumond, que também tinha influência na zona da Leopoldina.
Violência e Retaliação
Essa competição por pontos de jogo já resultou em episódios de grande violência. Em 2010, Rogério foi alvo de um atentado em que explosivos foram colocados em seu carro. Na ocasião, seu filho, Diogo de Andrade, que estava ao volante, não sobreviveu, enquanto Rogério ficou ferido no rosto.
Ligação com o Carnaval
Assim como outros líderes do jogo do bicho, Rogério mantém uma relação forte com o Carnaval do Rio. Ele é patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, na qual sua esposa, Fabíola de Andrade, atua como rainha de bateria. No Carnaval de 2024, Rogério não pôde comparecer à Sapucaí devido a restrições judiciais, já que estava sob prisão domiciliar.
Pelas redes sociais, surgiram especulações sobre sua presença disfarçada na festa, especialmente porque o mascote da Mocidade é um castor, em homenagem a Castor de Andrade. Após o desfile, Rogério postou uma foto do mascote em sua conta no Instagram, levantando ainda mais rumores.
Desafios Legais e Futuro Incerto
Rogério já havia sido preso anteriormente durante a Operação Calígula, que visava desmantelar uma rede de jogos de azar no Rio. Recentemente, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) revogou algumas das medidas cautelares contra ele, incluindo o uso da tornozeleira eletrônica.
O futuro de Rogério de Andrade e de sua organização criminosa permanece incerto, mas a luta do MPRJ contra o jogo do bicho e suas ramificações continua firme. A sociedade fluminense observa atentamente os desdobramentos dessas operações e as implicações que elas têm para o combate ao crime organizado.