O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou nesta semana para Santa Marta, na Colômbia, onde participa da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia. Durante o encontro, Lula voltou a criticar a presença militar dos Estados Unidos na América Latina — embora tenha evitado citar o nome do ex-presidente Donald Trump, o tom do discurso deixou claro o recado.
Enquanto o petista discursava sobre soberania e integração regional, aqui no Brasil o cenário era de destruição. Um tornado devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná, deixando seis pessoas mortas, cerca de mil desabrigados e uma destruição que, segundo a Defesa Civil, chegou a 90% da cidade. Casas viraram escombros, postes tombaram e muitos moradores perderam tudo — absolutamente tudo — do dia pra noite.
Mesmo diante do caos, Lula preferiu não interromper sua agenda internacional. Limitou-se a publicar uma mensagem de solidariedade nas redes sociais e enviou a ministra Gleisi Hoffmann para representar o governo federal no local. A ausência física do presidente gerou críticas, principalmente nas redes, onde internautas cobraram uma postura mais próxima das vítimas. “Enquanto o povo do Paraná chora, Lula faz discurso na Colômbia”, escreveu um usuário do X (antigo Twitter), resumindo o sentimento de parte dos brasileiros.
Na cúpula, o próprio presidente admitiu que o evento parecia “um ritual vazio”, já que muitos líderes regionais não compareceram. O comentário soou como um desabafo, mas também reforçou a percepção de que a viagem talvez não fosse essencial, ainda mais diante da tragédia que o país enfrentava naquele momento.
Lula tentou usar o encontro para defender uma América Latina mais independente e menos subordinada às potências estrangeiras, discurso que agrada sua base e ecoa velhas pautas do seu primeiro governo. No entanto, para quem acompanha de perto a política, o contraste entre o tom ideológico da fala e a realidade de um país abalado por desastres naturais é difícil de ignorar.
A visita de Gleisi ao Paraná foi marcada por vaias e protestos. Alguns moradores se queixaram da lentidão no envio de ajuda federal e da falta de estrutura para os desabrigados. A prefeita da cidade, visivelmente emocionada, afirmou que “nunca tinha visto nada igual”. Até agora, o governo anunciou medidas emergenciais, mas o sentimento local é de abandono.
Esse tipo de situação reacende um debate antigo: até que ponto a agenda internacional deve se sobrepor às urgências nacionais? Em tempos de redes sociais e informação em tempo real, gestos simbólicos — como uma visita ao local da tragédia — valem tanto quanto medidas práticas. É a presença do líder que conforta o povo, mais do que qualquer postagem bem-intencionada.
Nos últimos meses, Lula vem tentando equilibrar o papel de estadista global com o de gestor interno. A participação em fóruns internacionais, como a COP e o G20, busca reforçar a imagem do Brasil como ator relevante no cenário mundial. Mas, quando desastres como o do Paraná acontecem, essa prioridade é colocada à prova.
Em resumo, o episódio deixou uma sensação amarga: enquanto o presidente discursava sobre união e solidariedade entre os países, parte do seu próprio povo enfrentava o desespero sozinha. E por mais que a diplomacia seja importante, a empatia costuma pesar mais no coração do eleitor — especialmente quando o chão da sua casa foi levado pelo vento.