Novo embargo das defesas pode gerar sanção a Bolsonaro, diz professor

As Implicações Jurídicas dos Novos Recursos de Jair Bolsonaro: O Que Esperar?

A recente estratégia de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que consiste na apresentação de novos embargos de declaração referentes ao julgamento da ação penal do que foi denominado de “núcleo 1” da suposta trama golpista, levanta uma série de questionamentos e pode acarretar consequências jurídicas bastante severas. Segundo o advogado Gustavo Sampaio, que também é professor de Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense (UFF), essa manobra pode resultar na imposição de sanções contra o réu.

O Que São Embargos de Declaração?

Antes de nos aprofundarmos nas implicações dessa estratégia, é importante entender o que são embargos de declaração. Este recurso tem como finalidade esclarecer omissões e contradições presentes no texto final de um julgamento. Embora a legislação processual não estabeleça um limite para a apresentação desses embargos, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) adota uma postura mais restritiva.

Consequências da Apresentação de Novos Recursos

Conforme Sampaio destaca, se a defesa de Bolsonaro decidir por apresentar um novo recurso nas próximas semanas, a Corte pode interpretar que essa manobra é apenas uma tentativa de atrasar o processo, o que configuraria os chamados efeitos protelatórios. Isso pode levar à aplicação de sanções contra a parte que estaria utilizando esse recurso apenas para adiar, por exemplo, o resultado final do processo. Essa situação é crítica, pois a jurisprudência já sinaliza que a repetição de embargos pode ser considerada uma estratégia deliberada para procrastinar o andamento do julgamento.

Estratégias Simbólicas e Projeção Política

Além do risco de punição por manobras de protelação, Sampaio também aponta que esses novos recursos podem representar uma forma de estratégia simbólica, buscando uma projeção política em meio à crise. Essa busca por visibilidade e apoio pode ser uma tentativa de galvanizar a base de apoiadores, mesmo que as chances de sucesso jurídico sejam limitadas. “A jurisprudência entende que a apresentação de um segundo manifesto de embargos de declaração pode configurar, de forma clara, efeitos protelatórios, resultando em sanções”, explica o professor.

Diferença entre Embargos de Declaração e Embargos Infringentes

É vital diferenciar embargos de declaração de embargos infringentes. Os primeiros não têm a finalidade de alterar o conteúdo do julgamento, mas sim de corrigir contradições ou omissões. Já os embargos infringentes, que têm o poder de modificar a decisão, não são aceitos pelo STF a menos que existam dois votos divergentes em uma decisão de turma. No caso em questão, apenas um voto divergente foi registrado, o do ministro Luiz Fux, o que torna os embargos infringentes inadmissíveis.

O Prolongamento do Processo

Se a defesa insistir na apresentação dos embargos infringentes, pode haver uma série de recursos subsequentes, como um agravo interno, que pode resultar em um atraso significativo no processo. Sampaio observa que, se todos esses passos forem seguidos, o tribunal poderá demorar para produzir a certidão de trânsito em julgado da decisão final condenatória. Isso significa que, dependendo do desenrolar dos acontecimentos, o processo pode se arrastar até dezembro, prolongando ainda mais a angústia para todos os envolvidos.

Possíveis Cenários de Cumprimento da Pena

Em caso de uma condenação confirmada, surgem discussões sobre como e onde a pena será cumprida. O professor Sampaio explica que, nas causas de competência originária do STF, o tribunal tem a autoridade de executar os próprios julgamentos. O ministro Alexandre de Moraes, que é o relator do caso, já sinalizou que, devido à complexidade e delicadeza da situação, a Primeira Turma do STF se encarregará da fase de execução.

Opções de Local para Cumprimento da Pena

Em relação ao local de cumprimento da pena, Sampaio menciona três opções possíveis:

  • O complexo penitenciário da Papuda;
  • Uma sala da Polícia Federal, por questões de segurança;
  • Um estabelecimento militar, considerando que o ex-presidente é capitão da reserva.

No entanto, o advogado acredita que a situação pode ter um desfecho menos severo, similar ao que ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que, após ser condenado por corrupção, passou apenas algumas noites em um presídio antes de conseguir o direito de cumprir sua pena em casa. “Se houver um recolhimento à prisão, devido ao estado de saúde do ex-presidente, é possível que o tribunal autorize uma prisão domiciliar”, conclui.



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