Governo avalia relatório de Derrite como “lambança legislativa”

Conflitos e Desafios na Nova Proposta de Combate ao Crime Organizado

No cenário político brasileiro atual, a proposta de lei antifacção, elaborada pelo deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), tem gerado uma série de discussões e polêmicas. Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticaram a quarta versão do PL, que foi apresentada na noite de quarta-feira, dia 12. Para eles, a proposta não só carece de consenso, mas também é vista como uma ‘lambança legislativa’.

Adiada a Votação do Marco Legal

A votação do que agora é chamado de Marco Legal de Combate ao Crime Organizado, que estava agendada para ser realizada hoje, foi adiada para a próxima terça-feira, dia 18. Essa decisão reflete a falta de concordância entre os membros do governo e da oposição, que reconhecem que a versão de Derrite ainda apresenta problemas que precisam ser resolvidos antes de ser levada à votação.

Impactos Potenciais da Nova Redação

De acordo com diversos especialistas e técnicos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, se a nova redação for aprovada, poderá provocar um verdadeiro ‘caos jurídico’. O temor é que a proposta de Derrite, que sugere uma legislação autônoma, acabe ignorando e sobrepondo leis já existentes, como a Lei das Organizações Criminosas, a Lei Antidrogas, o Código Penal, e até mesmo a Constituição Federal.

Financiamento da Polícia Federal em Debate

Após críticas do governo sobre um possível esvaziamento dos fundos federais na redação anterior, Derrite fez uma nova proposta para recompor o financiamento da Polícia Federal. A versão anterior do relatório havia indicado que bens e valores confiscados de facções criminosas seriam incorporados por estados e pelo Distrito Federal. Na nova proposta, Derrite sugere que os recursos provenientes de apreensões sejam direcionados ao Funapol, o Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-Fim da Polícia Federal, desde que o crime em questão seja investigado pela própria PF.

Controvérsias sobre a Gestão dos Recursos

Os estados, segundo a nova redação, teriam direito aos bens apreendidos sempre que conduzissem operações policiais. No entanto, essa alteração não parece ser suficiente para atender às exigências do governo, que ainda aponta para a insuficiência de recursos e um sufocamento financeiro da Polícia Federal. Os técnicos do Ministério da Justiça argumentam que, ao querer que o Funapol administre os recursos das apreensões, Derrite ignora a Constituição, que designa o Funad (Fundo Nacional Antidrogas) como gestor dos bens provenientes do tráfico.

Críticas ao Novo Conceito de Facção Criminosa

Outro ponto polêmico levantado pelo governo diz respeito ao conceito de facção criminosa. O novo texto define uma facção como “toda organização criminosa ultraviolenta, milícia privada ou grupo paramilitar que visa ao controle de territórios ou de atividades econômicas, mediante o uso de violência, coação, ameaça ou outro meio intimidatório”. Essa definição, porém, não possui uma tipificação específica, o que gera ainda mais controvérsias.

Terminologia e Implicações Legais

A expressão “organização criminosa ultraviolenta”, que foi utilizada na nova versão do parecer, também é alvo de críticas. Para muitos, esse termo foi criado apenas para evitar a utilização do conceito de “organização criminosa qualificada”, que estava presente na versão original do PL antifacção. Essa mudança de terminologia sugere uma tentativa de suavizar a percepção sobre a gravidade do problema.

Reflexões Finais

O debate em torno do PL antifacção e suas versões revela a complexidade do combate ao crime organizado no Brasil. As divergências entre governo e oposição, assim como as críticas dos especialistas, mostram que a construção de uma legislação eficaz e que atenda às necessidades do país é um desafio. As próximas semanas serão cruciais para entender os rumos que essa proposta tomará e quais impactos ela poderá ter na segurança pública.

É fundamental que a sociedade acompanhe essas discussões, pois as decisões tomadas podem influenciar diretamente a luta contra o crime organizado em nosso país.



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