Criminoso dava “curso” on-line de como desbloquear celulares furtados

Nesta segunda-feira (17/11), logo cedo, a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ) puxou o gatilho de uma grande ofensiva que vinha sendo montada há meses, quase em silêncio. A ação, feita em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), mirou um esquema nacional de desbloqueio e receptação qualificada de celulares — um negócio que, segundo policiais envolvidos, movimentava muita grana e atravessava praticamente o país inteiro.

Tudo começou de forma aparentemente simples: a prisão de um único criminoso que se destacava no submundo do desbloqueio. O sujeito era conhecido por conseguir destravar celulares de modo remoto, como se estivesse do lado da vítima. Nada de ferramentas improvisadas ou gambiarra de feira — era coisa feita com técnica, quase profissional. A partir da queda dele, os agentes começaram a puxar o fio da meada e descobriram uma espécie de clientela fixa espalhada por todos os estados brasileiros. Para piorar, o homem ainda dava cursos on-line, ensinando passo a passo como burlar os sistemas de segurança dos aparelhos.

A operação recebeu o nome de “Rastreio”, porque, segundo um delegado que participou da fase inicial, o grupo criminoso já vinha sendo monitorado havia tempo, como se estivessem montando um mapa detalhado das conexões dos bandidos. É considerada a maior ofensiva da história contra roubo, furto e receptação de celulares no país. Nesta segunda, equipes estiveram simultaneamente em 11 estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Pará e Rondônia. No total, 132 mandados judiciais foram cumpridos.

Os principais alvos são os clientes recorrentes do especialista em desbloqueio preso na primeira fase. Conforme a PCERJ, eram eles que entregavam aparelhos roubados para que o criminoso fizesse o serviço, permitindo que os telefones voltassem ao mercado com aparência “limpa”. Outro grupo era formado por suspeitos que se especializaram em recolocar os aparelhos no comércio, principalmente em lojas, quiosques e boxes de camelôs. Segundo investigadores, muitos desses locais tinham movimento grande, especialmente em regiões com fluxo intenso, como centros comerciais e estações de transporte — algo bem comum hoje em cidades grandes.

A polícia também descobriu que uma parte dos envolvidos buscava desbloquear celulares não apenas para revendê-los, mas para acessar dados sensíveis das vítimas. Entre os usos mais comuns estavam a abertura ilegal de contas bancárias, golpes via aplicativos de banco e contratação de empréstimos fraudulentos. É o tipo de crime que vem crescendo no Brasil, principalmente depois que serviços digitais se tornaram mais populares e os assaltantes passaram a mirar celulares pela quantidade de informação que carregam.

O suposto líder do esquema — o mesmo que ministrava os cursos — foi preso em maio deste ano. No dia 9 daquele mês, policiais cumpriram três mandados de busca e apreensão no imóvel dele. Ao entrar na casa, os agentes encontraram três notebooks, cerca de 15 aparelhos de celular, um simulacro de pistola e um bloqueador de sinal, o chamado “jammer”, equipamento muito usado em roubos de carga para impedir rastreamento.

Desde que começou, a Operação Rastreio vem apresentando resultados significativos. Já são mais de 10 mil celulares recuperados, sendo que cerca de 2,8 mil foram devolvidos aos donos — alguns até acharam que jamais veriam o aparelho de novo. De acordo com dados atualizados pela própria PCERJ, mais de 700 criminosos foram presos, entre ladrões, furtadores e receptadores.

A polícia sinaliza que a operação vai continuar pelas próximas semanas, já que novas ramificações do esquema seguem sendo identificadas em diferentes estados. Para quem acompanha segurança pública no Brasil, o caso mostra como esse tipo de crime se sofisticou — e como o combate também precisa ser cada vez mais técnico.



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