Conheça história real que inspirou o filme ‘Minha Criança Trans’, estrelado por Ingrid Guimarães

Inspirado em uma história real que já emocionou muita gente nas redes, o filme “Minha Criança Trans” ganhou força nesta semana após a confirmação de que Ingrid Guimarães será a protagonista — informação divulgada pela revista Variety. A produção vai explorar a relação intensa, cheia de dúvidas, descobertas e muito afeto entre Thamirys Nunes, moradora de Campinas (SP), e a filha Agatha, que iniciou sua transição de gênero ainda aos 4 anos.

A trajetória das duas não é simples nem linear. Pelo contrário: nasceu de uma mistura de amor, desespero, falta de informação e aquela coragem que aparece quando a vida empurra. Foi justamente dessa vivência que Thamirys tirou forças, em 2022, para criar uma ONG dedicada a apoiar famílias com crianças trans. Na época, ela mesma dizia que se sentia “tateando no escuro”, tentando entender conceitos que nunca tinham feito parte do seu cotidiano.

Hoje, a ONG Minha Criança Trans — que acabou inspirando até o nome do filme — atende 650 famílias em todo o Brasil, além de 75 famílias no exterior, acompanhando crianças e adolescentes de 3 a 18 anos. O trabalho inclui orientação sobre saúde, acolhimento emocional, políticas públicas e garantia de direitos, criando uma rede de pais e responsáveis que se ajudam mutuamente a enfrentar o peso do preconceito.

“Mãe, posso morrer hoje pra nascer menina amanhã?”

A história de Agatha viralizou há algum tempo, mas ainda assim poucas pessoas conhecem o início. Antes de liderarem debates e enfrentarem ataques nas redes — cenário comum em 2024 e 2025 —, a família precisou encarar um processo interno difícil. Thamirys, criada em um ambiente tradicional, nunca havia convivido com pessoas trans. E a primeira que cruzou seu caminho foi justamente sua própria filha.

A ficha começou a cair quando Agatha tinha apenas três anos e, do nada, soltou:
“Mãe, sabe o que é triste? É triste que Deus não me fez menina. Eu seria tão mais feliz.”

Dias depois, outra frase veio como uma pancada:
“Mãe, eu posso morrer hoje pra nascer menina amanhã?”

Thamirys conta que congelou. A única coisa que conseguiu responder foi:
“Pelo amor de Deus, não morre. O resto a gente dá um jeito.”

Do outro lado da história está Fábio Cassali, pai de Agatha, que relata um processo igualmente transformador. Ele diz que tudo foi doloroso — não por rejeição, mas por medo, por incerteza, por ausência de referências. “A gente nunca quis forçar nada. Só queria entender nossa filha”, conta.

Hoje, ele vê Agatha ocupando espaços, falando de si com liberdade, segurando a própria identidade sem vergonha. “Quando eu vejo ela dizendo ‘eu sou essa menina que está aqui’, me dá um orgulho imenso”, afirma.

O filme e a missão de contar essa história

A produção será conduzida por Guilherme Coelho e Mariana Ferraz, da Matizar Filmes, com a própria Ingrid Guimarães também assinando a produção. A Vitrine Filmes, responsável por títulos recentes como “O Agente Secreto”, cuidará da distribuição no Brasil e deve participar do investimento no desenvolvimento do longa.

A previsão é que as filmagens comecem em 2027, o que dá tempo para aprofundar roteiro, ajustes e pesquisa. Em entrevista à Variety, Ingrid definiu o projeto como “um lembrete poderoso de que o amor transcende rótulos”. Será o primeiro drama da atriz no cinema, e ela encara isso como uma missão pessoal.

Ao g1, Thamirys contou que as negociações começaram ainda em 2024. Ela se disse emocionada com a escolha da atriz: “A Ingrid é brilhante. Tenho certeza que fará algo muito sensível”.

Para ela, o filme é mais que entretenimento: é uma chance real de furar a bolha. Uma oportunidade de levar às telas um tema que ainda provoca resistência e desinformação. “A arte quebra tabus. E essa história, sendo contada com verdade, pode abrir caminhos para muita gente”, afirma.



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