A Polícia Federal tem em mãos documentos que jogam ainda mais luz sobre um dos pontos mais sensíveis da chamada Farra do INSS. Segundo apuração, a PF conseguiu comprovar uma das viagens feitas por Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido nos bastidores como Careca do INSS, ao lado de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os dois embarcaram juntos — ao menos no mesmo voo — em 8 de novembro do ano passado, saindo do Aeroporto de Guarulhos (GRU) com destino a Lisboa (LIS). A viagem foi feita em primeira classe, no voo Latam JJ–8148. O detalhe que chama atenção é o nível de precisão da documentação: a PF obteve inclusive a identificação das poltronas. O Careca do INSS ocupava o assento 3A, enquanto Lulinha estava mais atrás, no 6J. Ambos na janela, ambos na área mais exclusiva da aeronave.
A informação sobre essa viagem surgiu inicialmente no depoimento de Edson Claro, ex-funcionário do Careca do INSS. Na época, a revelação causou barulho, mas faltavam provas materiais. Agora, segundo investigadores, a lista oficial de passageiros do voo confirma o relato e reforça a credibilidade do depoimento.
O episódio ganha contornos ainda mais políticos porque, no início do mês, a chamada tropa de choque governista na CPMI do INSS conseguiu barrar um requerimento que pedia à Latam a lista completa de passageiros desse mesmo voo. Mesmo assim, a Polícia Federal obteve os dados por outros meios, de forma independente, sem passar pelo crivo da comissão parlamentar.
No depoimento, Edson Claro foi além. Ele afirmou que essa não teria sido uma viagem isolada. Segundo o ex-funcionário, Lulinha teria feito outras viagens internacionais com o Careca do INSS, sempre com as despesas bancadas pelo empresário. Ainda de acordo com o relato, o filho do presidente receberia uma espécie de “mesada” de aproximadamente R$ 300 mil por mês, além de um pagamento pontual que teria chegado à cifra de R$ 25 milhões.
Os valores da viagem também chamam atenção. Um voo de primeira classe nessa rota, operado pela Latam, pode custar entre R$ 14 mil e R$ 25 mil por passageiro. O serviço inclui poltronas que reclinam totalmente, virando cama, atendimento personalizado e uma carta de vinhos selecionados, com rótulos que chegam a custar até R$ 800.

Outro ponto que aumentou a desconfiança da oposição foi a mudança repentina de Lulinha para Madri, na Espanha, em meados deste ano. Parlamentares da CPMI questionam se ele teria tido acesso antecipado a informações das investigações ou se decidiu sair do país ao perceber que a comissão sairia do papel no Congresso.
Nesta segunda-feira (15/12), durante um café da manhã com jornalistas, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, evitou comentar diretamente o caso. Disse que as investigações seguem sob sigilo, mas admitiu que “infelizmente surgiu essa possibilidade”, em referência às suspeitas envolvendo o filho do presidente.
Procuradas, as defesas não se manifestaram de forma conclusiva. A defesa de Antônio Carlos Camilo Antunes afirmou que ainda não teve acesso aos autos e, por isso, prefere não comentar. Já Lulinha, segundo a apuração, ainda não constituiu advogado.
Pessoas próximas a ele afirmam que Lulinha deve retornar ao Brasil no fim do ano e que pretende processar todos que associaram seu nome ao escândalo. Esses interlocutores também ressaltam que o simples fato de ambos estarem no mesmo voo não prova, por si só, que viajaram juntos ou que mantinham qualquer tipo de relação ilícita.
Enquanto isso, o caso segue alimentando o debate político e promete novos capítulos, tanto no campo jurídico quanto no Congresso.