O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu falar sem rodeios e abriu o coração durante uma coletiva de imprensa recente, ao relembrar um dos momentos mais delicados da sua vida pessoal e política: o diagnóstico de câncer, recebido lá em 2011. Em meio a perguntas sobre governo, cenário atual e desafios do país, Lula acabou voltando no tempo e contou detalhes do dia em que descobriu a doença, algo que, segundo ele mesmo, jamais passou pela sua cabeça.
Naquele ano, Lula foi diagnosticado com câncer na laringe. O então ex-presidente contou que tudo começou de forma aparentemente simples, quase banal. Nada que indicasse algo tão sério. Ele relatou que estava com febre alta, a garganta bastante irritada e decidiu procurar um médico, mais por precaução do que por medo. “Eu fui no Sírio dar uma olhada na garganta e, sinceramente, nunca imaginei ter câncer”, disse Lula, lembrando que a consulta aconteceu no dia 26 de outubro, exatamente um dia antes do seu aniversário.
Segundo o presidente, o médico avaliou a situação e disse que se tratava de uma inflamação comum. Receitou um remédio e, a princípio, tudo parecia resolvido. Mas foi nesse momento que entrou a sensibilidade de Marisa Letícia, sua esposa na época, que acabou tendo um papel decisivo naquela história. Lula contou que, já de saída do hospital, Marisa fez uma observação simples, porém crucial. “Ela virou pra mim e falou: ‘Lula, por que você não faz um PET scan?’”, relatou, visivelmente emocionado ao recordar da cena.
O exame PET scan, como se sabe, é utilizado para identificar a presença de tumores no corpo. Mesmo sem muita convicção, Lula decidiu seguir o conselho da esposa. Pouco tempo depois, veio o diagnóstico que mudaria completamente sua rotina e sua forma de enxergar a vida. Dois dias após a descoberta do tumor, ele já havia iniciado o tratamento, enfrentando sessões de quimioterapia e radioterapia, sob os olhares atentos do Brasil inteiro.
Durante a coletiva, Lula não escondeu o impacto emocional daquele período. Disse que foi um choque, mas também um aprendizado. “Fico imaginando por que todas as pessoas não têm direito a isso”, afirmou, ao se referir ao acesso rápido a exames de alta complexidade e tratamento de qualidade. A fala ecoou forte, principalmente em um país onde milhares de brasileiros ainda enfrentam filas e dificuldades no sistema de saúde.
A remissão do câncer foi anunciada pelos médicos no início de 2012, trazendo alívio não só para Lula e sua família, mas também para seus apoiadores. O episódio deixou marcas profundas. Tanto que, após superar a doença, Lula passou a olhar com mais atenção para as políticas públicas voltadas à saúde. Ele mesmo lembrou que, depois dessa experiência, assinou projetos e medidas para facilitar o acesso a exames e tratamentos contra o câncer pelo SUS, o Sistema Único de Saúde.
Em tempos em que o debate sobre saúde pública volta com força, especialmente após os impactos recentes da pandemia e discussões sobre financiamento do SUS, o relato de Lula ganha ainda mais peso. Não foi apenas um desabafo pessoal, mas também um lembrete de como experiências individuais podem influenciar decisões políticas. Entre emoção, memória e crítica social, o presidente mostrou um lado humano, distante do discurso engessado, falando como alguém que sentiu na pele o medo, a incerteza e, depois, o alívio de vencer uma batalha tão dura.