Impeachment de Alexandre de Moraes ganha força após denúncias; entenda

Segundo o Valor Econômico, o debate sobre um possível impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, ganhou um fôlego inesperado nos últimos dias após denúncias envolvendo o Banco Master. E o detalhe que mais chamou atenção é que esse movimento não ficou restrito à direita mais radical, como muita gente costuma rotular. O assunto começou a circular em outros ambientes, inclusive entre parlamentares e analistas que, até pouco tempo atrás, evitavam tocar nesse tema.

A situação passou a ganhar corpo no Senado depois da exposição de uma denúncia considerada sensível envolvendo Moraes. De acordo com o Valor, uma reportagem assinada por Malu Gaspar, publicada em O Globo, aumentou o custo político de simplesmente “empurrar o assunto para a gaveta”. Aquela velha estratégia de fingir que nada está acontecendo ficou bem mais difícil de sustentar, principalmente num momento em que o clima entre os Poderes já anda meio esticado.

Segundo a matéria de O Globo, Alexandre de Moraes teria entrado em contato com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar de um possível negócio envolvendo o Banco Master. Durante essa conversa, Galípolo teria informado que o BC havia identificado fraudes na instituição. Diante disso, Moraes teria concordado com o impedimento da operação. Até aí, o episódio já levanta questionamentos. Mas o ponto mais delicado veio depois: o Banco Master seria cliente da esposa do ministro, que atua como advogada.

É justamente aí que o assunto muda de patamar. O próprio Valor Econômico destaca que o debate sobre impeachment deixa de ser apenas ideológico ou político-partidário e passa a entrar num campo mais sensível, o da moral pública e do possível conflito de interesses. Isso, na prática, cria um cenário bem mais complicado para qualquer tentativa de defesa institucional automática do Supremo Tribunal Federal, algo que normalmente acontece quando ministros são atacados.

Ainda segundo a análise do VE, caso se confirme que Moraes realmente pediu informações ou intercedeu junto ao presidente do Banco Central, isso poderia caracterizar uma conduta imprópria, independentemente do contrato da esposa. Mesmo que fosse um trabalho gratuito, o simples acesso a informações privilegiadas já levantaria dúvidas sérias. Termos como “conflito de interesses” e “uso indevido de informação” começaram a aparecer com mais frequência nas conversas de bastidores em Brasília, o que não é pouca coisa.

Nos corredores do Senado, o clima é de cautela, mas também de atenção. Ninguém quer comprar uma briga direta com o STF sem provas sólidas, ainda mais num país que já viveu crises institucionais recentes e não quer repetir certos filmes. Ao mesmo tempo, ignorar totalmente as denúncias pode passar a impressão de conivência, algo que pesa bastante em ano pré-eleitoral, mesmo que as eleições ainda estejam um pouco distantes.

Apesar de todo esse barulho, o próprio Valor Econômico pondera que um impeachment de Alexandre de Moraes segue sendo algo improvável no curto prazo. O Congresso Nacional está em recesso, o que naturalmente desacelera qualquer avanço prático. Além disso, investigações precisam caminhar, documentos precisam aparecer e depoimentos precisam ser colhidos. Nada acontece do dia pra noite, ainda mais quando envolve um ministro do Supremo.

O que muda, no entanto, é o ambiente. O tema deixou de ser tabu e passou a ser discutido com mais seriedade, inclusive fora das bolhas ideológicas. Se isso vai resultar em algo concreto, só o próximo semestre dirá. Por enquanto, o caso entra naquela lista de assuntos que Brasília observa com lupa, silêncio estratégico e, claro, muitas conversas fora do microfone.



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