O comentarista político Merval Pereira fez uma declaração forte e nada comum ao vivo na Rádio CBN, nesta segunda-feira (22), ao avaliar o caso envolvendo o Banco Master e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para Merval, as informações reveladas são graves o suficiente para, segundo ele, embasar um pedido de impeachment do magistrado — algo raro de se ouvir no debate público tradicional.
A fala ocorreu durante a análise de uma reportagem da colunista Malu Gaspar, de O Globo, que trouxe detalhes sobre uma suposta atuação de Moraes junto ao Banco Central em favor do Banco Master, instituição que está sob investigação por uma fraude bilionária. O tom adotado por Merval foi direto, quase indignado, refletindo a gravidade que ele enxerga no episódio.
— É gravíssimo, gravíssimo. É gravíssimo e isso tem que ter um limite, tem que ter um fim. Porque a cada revelação que aparece sobre interesses privados envolvendo decisões é de perder a credibilidade, né? O Supremo vira um objeto de desconfiança do cidadão — afirmou o comentarista, sem rodeios.
Segundo Merval, o principal dano não é apenas institucional, mas simbólico. Para ele, quando surgem suspeitas de interferência privada em decisões ou articulações de um ministro do STF, a confiança da população na mais alta Corte do país começa a ruir. E isso, no cenário atual de polarização e descrédito das instituições, pesa ainda mais.
O comentarista também defendeu que Alexandre de Moraes precisa se manifestar oficialmente sobre as informações divulgadas. Caso os fatos não sejam verdadeiros, Merval acredita que o ministro deveria refutá-los de maneira clara e firme, sem deixar espaço para dúvidas.
— Então ele tem que se pronunciar, tem que provar que não é verdade, tem que recusar isso de maneira veemente, porque ele perde completamente a credibilidade com a divulgação de uma história dessa — reforçou.
De acordo com a reportagem, Moraes teria feito contatos diretos com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar da situação do Banco Master. As conversas teriam ocorrido em ao menos quatro ocasiões, sendo três por telefone e uma em reunião presencial. O banco é investigado por uma fraude bilionária que envolve a emissão de carteiras de crédito falsas e a venda de ativos que, na prática, não existiriam.
Merval também fez questão de destacar o histórico profissional de Malu Gaspar, reforçando a credibilidade das informações publicadas. Para ele, não se trata de uma denúncia leviana ou baseada em boatos.
— A Malu tem uma tradição de bem informar. Ela é uma jornalista muito bem informada, muito séria, e ela não publica coisas sem apuração. Foi tudo com detalhe, e até agora não foi refutado por ninguém — disse.
Segundo a colunista, as informações foram obtidas a partir de seis fontes diferentes, ao longo das últimas três semanas. Uma dessas fontes, inclusive, teria ouvido do próprio ministro a confirmação sobre o encontro com o presidente do Banco Central. Tanto Moraes quanto Galípolo teriam sido procurados para comentar a reportagem, mas não responderam até a publicação.
O caso surge em um momento especialmente sensível para o STF, que já enfrenta críticas constantes, questionamentos sobre limites institucionais e cobranças por mais transparência. A fala de Merval Pereira, por partir de um comentarista historicamente alinhado ao debate institucional clássico, acabou chamando ainda mais atenção.
Independentemente dos desdobramentos, o episódio reacende uma discussão delicada: até onde vai o papel de um ministro do Supremo fora dos autos? E, principalmente, qual o impacto disso na confiança pública. Agora, a bola está no campo dos citados — e o silêncio, nesse tipo de situação, costuma falar alto.
