Arlindo Cruz tratava vício em drogas antes de sofrer AVC, entenda

Arlindinho, filho do lendário sambista Arlindo Cruz, abriu o jogo sobre um capítulo delicado da história do pai — um lado que pouca gente conhecia até ele decidir falar. Em um papo sincero no canal do jornalista Rica Perrone, no YouTube, o músico contou que, antes do AVC que paralisou boa parte da rotina de Arlindo em 2017, o pai enfrentava um problema sério: o vício em cocaína.

A revelação não veio para causar polêmica, mas sim para mostrar a luta que o artista travou por muitos anos, inclusive nos bastidores do sucesso. “Meu pai tava no auge. Lançando minha carreira, me apresentando pra galera, passando o bastão. Ele já vinha se tratando, ficou uns meses sem usar nada… tava focado”, relembrou Arlindinho, com um misto de orgulho e tristeza.

O assunto, segundo ele, sempre foi tratado com muito cuidado dentro da família. Arlindo preferiu manter em sigilo até que a filha mais nova tivesse maturidade pra entender o que era dependência química. Mas o destino foi cruel: pouco depois de falar abertamente sobre isso, veio o AVC, mudando tudo.

Desde aquele dia, a vida do sambista virou um ciclo de cuidados médicos, fisioterapia e uma adaptação dolorosa à nova realidade. Ainda assim, conforme o filho relata, Arlindo não deixou de se comunicar. “Ele reage aos estímulos, faz expressões… a gente vê no olhar que ele tá ali, entendendo tudo”, contou.

Arlindinho faz questão de lembrar que, mesmo no período em que enfrentava as drogas, o pai nunca deixou a família de lado. “Ele já tinha tentado parar várias vezes, mas foi nesse momento que conseguiu ficar mais tempo limpo. E olha… com todos os erros e loucuras dele, sempre pensou na gente. Comprou imóveis, garantiu nossa segurança. Nunca deixou faltar nada.”

Essa visão humana do pai quebra o estigma que muitas vezes se cria sobre pessoas com dependência química. Não era só o músico dos palcos, o homem das rodas de samba ou das composições que marcaram gerações. Era o amigo de todos, o vizinho que cumprimentava na rua, o cara que ajudava quem precisava. “Meu pai era um amigo maravilhoso pra qualquer um que chegasse perto. Ele tinha um coração gigante”, destacou o filho.

Arlindinho também revelou que conheceu essa parte da vida do pai bem cedo. “Eu tinha 11 anos quando ele me contou. Ali mesmo criei uma aversão a drogas. Trato todo mundo bem, até quem usa, mas eu não uso. Minha energia é outra.”

O relato vem carregado de um respeito profundo. Arlindinho não tenta transformar o pai em um herói perfeito, mas também não deixa que a imagem dele se resuma ao vício. “Meu pai era um vencedor, inteligente, educado. Só fez mal pra ele mesmo. Pro mundo, só fez o bem”, resumiu.

Hoje, com as redes sociais fervendo de lembranças e homenagens, ainda mais depois das últimas notícias sobre a saúde de Arlindo, a fala do filho ganha um peso especial. É quase um registro histórico, mostrando que por trás dos aplausos sempre há histórias complexas, feitas de quedas, superações e, no caso de Arlindo, muito amor pela música e pela família.

Talvez seja por isso que, mesmo afastado dos palcos, ele ainda seja lembrado em lives, programas e rodas de samba pelo país. O legado dele vai muito além das notas musicais — tá no jeito de inspirar, de emocionar e de mostrar que a vida é feita de altos e baixos. Como diria o próprio Arlindo em suas composições, “o importante é não deixar o samba morrer”… e, pelo visto, nem a história.