A Caixa Econômica Federal voltou aos holofotes no começo de 2025 por conta de um contrato milionário que chamou atenção não apenas pelo valor, mas também pelo nome envolvido. Em janeiro, o banco estatal assinou um acordo sem licitação de R$ 3,27 milhões com o escritor e jornalista Eduardo Bueno, mais conhecido pelo apelido de Peninha. O objetivo: atualizar duas obras antigas sobre a trajetória da instituição, justamente no embalo das comemorações dos 165 anos do banco, que serão lembrados oficialmente no dia 12 de janeiro de 2026.
As publicações escolhidas não são novidades absolutas. Tratam-se dos livros Caixa: Uma História Brasileira (lançado em 2002) e Caixa: 150 anos de uma História Brasileira (2010), que agora ganharão novas edições. De acordo com o Diário Oficial da União de 23 de janeiro, o pacote do projeto inclui também uma versão comemorativa mais sofisticada, uma edição bilíngue em formato digital e até uma websérie documental. Ou seja, não é só reimpressão: é uma repaginação completa da memória institucional da Caixa.
O detalhe é que, enquanto o contrato circula nos bastidores, Peninha também coleciona polêmicas públicas. Recentemente, em um vídeo no Instagram, ele ironizou a comoção causada pela morte do influenciador conservador americano Charlie Kirk, que foi assassinado num episódio ainda repercutido na imprensa internacional. Com o tom sarcástico que costuma marcar suas falas, o escritor comentou:
– É sempre terrível, né? Um ativista ser morto por suas ideias, exceto quando é o Charlie Kirk. Mataram o Charlie Kirk. Ai, coitado, tomou um tiro, não sei se na cara – disse, arrancando críticas de todos os lados.
E não parou por aí. Peninha ainda fez piada envolvendo as filhas do influenciador, comentário que muitos classificaram como de mau gosto:
– O Charlie Kirk. Tem duas filhas pequenas, que bom para as filhas dele, né? Que bom – completou.
Não foi a primeira vez que ele se envolveu nesse tipo de fala controversa. Já em 2021, durante um podcast, havia afirmado abertamente que torcia pela morte de políticos ligados à direita. Para alguns, esse estilo agressivo e provocador é apenas parte da sua persona pública; para outros, uma postura inaceitável para alguém que recebe verba de um banco estatal.
Vale lembrar que Eduardo Bueno não é um novato no cenário cultural brasileiro. Gaúcho, jornalista de formação, escritor e tradutor de longa trajetória, ganhou notoriedade com a coleção Terra Brasilis, que vendeu mais de 1 milhão de exemplares e ajudou a popularizar versões mais narrativas da história do país. Além disso, foi ele quem traduziu para o português o clássico da literatura beat On the Road, de Jack Kerouac, uma das obras mais emblemáticas da contracultura do século XX.
Com seu estilo ácido, já escreveu em veículos de peso como O Estado de S. Paulo, participou de programas na TV Cultura e, atualmente, mantém um canal no YouTube onde mistura humor, história e provocações políticas. Sua carreira rendeu premiações respeitáveis, incluindo o Jabuti e a Ordem do Mérito Cultural.
A questão que fica é: até que ponto a Caixa deve se associar a figuras que, mesmo reconhecidas culturalmente, estão constantemente envolvidas em controvérsias políticas e declarações polêmicas? O contrato milionário já gera debates entre críticos de gastos públicos e defensores da liberdade criativa. Uns alegam que se trata de um investimento válido para resgatar a história do banco em versões atualizadas e acessíveis, principalmente em tempos digitais. Outros veem exagero nos valores e questionam se não haveria outros profissionais capacitados para a missão.
Enquanto isso, Peninha segue sendo Peninha: provocador, irônico, dono de um estilo que conquista e irrita na mesma medida. Se o projeto vai ser lembrado mais pelo valor ou pelo conteúdo, só saberemos quando a Caixa soltar a nova coleção e, claro, quando os vídeos da websérie começarem a rodar nas redes sociais.