O 4º Tribunal do Júri da Capital, no Rio de Janeiro, tomou uma decisão importante nesta quinta-feira, 31 de outubro. Ele condenou Élcio Queiroz e Ronnie Lessa pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um crime que chocou o Brasil em 14 de março de 2018. O julgamento começou no dia anterior, 30, e foi recheado de depoimentos de testemunhas e dos próprios réus.
Ronnie Lessa vai passar 78 anos e 9 meses atrás das grades, além de ter que pagar 30 dias-multa. Já Élcio Queiroz foi condenado a 59 anos e 8 meses, com uma multa de 10 dias. Eles também terão que desembolsar R$ 706 mil em indenizações para as famílias das vítimas: Arthur (filho de Anderson), Luiara (filha de Marielle), Ágata (viúva de Anderson), Monica (viúva de Marielle) e Marinete (mãe de Marielle). Isso tudo mostra que, finalmente, algumas contas estão sendo cobradas.
No primeiro dia do julgamento, a coisa foi tensa. Testemunhas como Fernanda Chaves, que era assessora de Marielle e estava no carro na hora do ataque, deram seus depoimentos. Marinete e Monica, mãe e esposa de Marielle, também estavam lá, assim como Ágatha, a viúva de Anderson. A presença de policiais como Carlos Alberto Paúra Júnior e outros que participaram da investigação trouxe mais peso para a sessão.
Os réus não ficaram em silêncio. Eles também falaram na quarta-feira, mas o foco estava nas evidências e nas histórias das vítimas. O que chama atenção é que, segundo as investigações, os mandantes do crime são Domingos e Chiquinho Brazão, mas eles estão sendo julgados em outra instância, no STF, junto com o delegado Rivaldo Barbosa, devido a questões de foro privilegiado.
A decisão do júri foi resultado do trabalho de um grupo de sete jurados, escolhidos de forma aleatória de um total de 21. A juíza Lúcia Glioche foi quem deu a sentença. Esse caso é emblemático e não sai da cabeça de ninguém, não é à toa que ainda repercute tanto.
A história de Marielle Franco é trágica. Ela foi morta aos 38 anos enquanto voltava para casa, após um encontro com mulheres negras na Lapa. O ataque ocorreu na Praça da Bandeira, quando um Chevrolet Cobalt prata se aproximou e disparou nove vezes. Marielle e Anderson foram atingidos com múltiplos tiros, enquanto a assessora se feriu com estilhaços. O crime, que parece ter sido planejado, deixou um vazio enorme e muitas perguntas.
Logo após o assassinato, a polícia começou a investigar e, em março de 2019, prendeu os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Lessa, apontado como o atirador, e Queiroz, suspeito de ser o motorista, foram detidos. Quase um mês depois, em 24 de março, a prisão de Chiquinho Brazão e Domingos Brazão, supostos mandantes, trouxe novas esperanças de que a verdade pudesse ser revelada. Ambos negam qualquer envolvimento no crime.
O ministro da Justiça na época, Ricardo Lewandowski, não poupou críticas às investigações que levaram cinco anos e, segundo ele, foram obstruídas. Além disso, em 2018, o ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann falou sobre os riscos de que a justiça estivesse sendo manipulada para dificultar as investigações. Mais recentemente, em dezembro de 2023, o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, informou que o inquérito estava em fase final e criticou as apurações anteriores, que pareciam mais paralelas do que efetivas.
É uma história cheia de reviravoltas e que continua a ser um marco na luta por justiça no Brasil. O que aconteceu com Marielle e Anderson é um lembrete de que, apesar de tudo, a busca por justiça e verdade não pode parar.