Estudo no Brasil investiga relação entre autismo e saúde do intestino

Um estudo brasileiro, publicado recentemente na revista científica Nature Microbiology, sugere uma possível associação entre o autismo e alterações no microbioma intestinal de crianças. A hipótese é que haja diferenças no grupo de microrganismos presentes na microbiota de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e de crianças neurotípicas.

A pesquisa sugere que essas diferenças podem ter alguma relação com o transtorno. No entanto, é importante destacar que o estudo não descarta a possibilidade de outras explicações para as alterações observadas, algo que será investigado em estudos futuros.

As possíveis ligações entre autismo e a saúde intestinal

O estudo, conduzido pelo médico Fabiano de Abreu Agrela no CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, baseia-se em um artigo anterior publicado por ele que já identificava uma associação entre autismo e alterações intestinais.

“As dores de barriga são um sintoma comum em pessoas com autismo, afetando até 70% da população autista. A constipação é o problema gastrointestinal mais prevalente em pessoas com autismo, presente em cerca de 40% dos casos. Outros problemas comuns incluem diarreia, refluxo gastroesofágico e sensibilidade alimentar”, afirma Agrela no estudo.

Segundo o artigo, os pesquisadores continuam investigando essa relação, sugerindo que as causas possam abranger desde problemas gastrointestinais até dificuldades de comunicação e sensibilidade sensorial.

Possíveis causas das alterações intestinais

Agrela ainda afirma que existem várias hipóteses sobre a relação entre TEA e alterações intestinais. “Estudos complementares devem ser feitos para definir com mais clareza as causas dessa possível relação, mas nosso estudo inicial já aponta algumas hipóteses que podem explicar a correlação”, pontua.

Entre essas hipóteses estão as dificuldades de comunicação das necessidades fisiológicas, que podem levar à constipação ou à incontinência fecal, assim como comorbidades associadas ao autismo, como ansiedade e depressão, que poderiam contribuir para problemas no trato gastrointestinal.

Embora o tema ainda esteja sob análise, o médico ressalta a importância de encaminhar pessoas com autismo a médicos especializados caso apresentem problemas frequentes, como dores abdominais, constipação e incontinência fecal.

Diversos tratamentos podem ser sugeridos pelos médicos, incluindo o uso de medicamentos, fisioterapia para fortalecer os músculos do assoalho pélvico e terapia ocupacional para melhorar habilidades de comunicação e autocuidado. Alterações na dieta também podem ser recomendadas para minimizar os problemas.

Saiba mais:

O Autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico que afeta a organização dos pensamentos, sentimentos e emoções.

As principais características do TEA incluem dificuldades de comunicação devido ao limitado domínio da linguagem e do uso da imaginação, dificuldade de socialização e comportamentos restritos e repetitivos.

Os sinais de alerta geralmente surgem nos primeiros meses de vida, mas a confirmação do diagnóstico costuma ocorrer entre os dois e três anos de idade.

Os sinais mais comuns do TEA são:

– Apresentar atraso anormal na fala;
– Não responder quando for chamado e demonstrar desinteresse com as pessoas e objetos ao redor;
– Ter dificuldades em participar de atividades e brincadeiras em grupo, preferindo sempre fazer tarefas sozinho;
– Não conseguir interpretar gestos e expressões faciais;
– Ter dificuldade para combinar palavras em frases ou repetir a mesma frase ou palavra com frequência;
– Apresentar falta de filtro social (sinceridade excessiva);
– Sentir incômodo diante de ambientes e situações sociais;
– Ter seletividade em relação a cheiro, sabor e textura de alimentos;
– Apresentar movimentos repetitivos e incomuns, como balançar o corpo para frente e para trás, bater as mãos, coçar algumas partes do corpo (como ouvidos, olhos e nariz), girar em torno de si, pular de forma repentina, reorganizar objetos em fileiras ou em cores;
– Mostrar interesse obsessivo por assuntos considerados incomuns ou excêntricos, como biologia, paleontologia, tecnologia, datas, números, entre outros;
– Ter problemas gastrointestinais ocasionados por quadros de ansiedade.