O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) voltou a usar as redes sociais, nesta quinta-feira (11/9), para criticar duramente o Supremo Tribunal Federal depois da formação de maioria pela condenação do seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de outros sete acusados. A decisão mexeu com o cenário político, que já anda turbulento em meio às discussões sobre eleições municipais e os bastidores de 2026.
Em sua publicação no X (antigo Twitter), Flávio ironizou o voto da ministra Cármen Lúcia, que acabou sendo decisivo para consolidar a maioria pela condenação. Até aquele momento, o placar já estava em 4 a 1. Segundo o senador, o voto da ministra teria faltado objetividade e provas claras. Ele chegou a escrever: “Carmem Lúcia não individualiza uma única conduta de ninguém, não cita uma prova de absolutamente nada. Pessoas que não se conhecem e nunca se falaram passaram a integrar uma organização criminosa. Discurso virou prova de premeditação. Narrativas viraram fundamento jurídico.”
A fala de Flávio não surpreende, já que ele tem sido uma das vozes mais ativas na defesa do pai desde o início desse processo. Mas o tom forte da crítica mostra que a família Bolsonaro pretende endurecer ainda mais a narrativa contra o Supremo. Inclusive, aliados do ex-presidente já falam em “perseguição política”, termo que tem circulado bastante entre os apoiadores, principalmente em grupos de WhatsApp e lives no YouTube.
O voto de Cármen Lúcia veio logo depois da manifestação do ministro Luiz Fux, que havia aberto divergência no julgamento. Fux defendeu a absolvição da maior parte dos acusados, indo contra a posição de Alexandre de Moraes e Flávio Dino, que já tinham votado pela condenação. Essa diferença de entendimentos no STF, embora comum, ganhou destaque porque mostra que o tribunal não é tão unânime quanto alguns imaginam.
No entanto, a decisão de Cármen Lúcia acabou pesando e inclinando o julgamento a favor da tese da Procuradoria-Geral da República. A PGR denunciou Jair Bolsonaro e os demais réus por cinco crimes graves: organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado contra patrimônio da União; e também deterioração de patrimônio tombado — esse último relacionado aos atos de vandalismo que marcaram os episódios de Brasília em 8 de janeiro de 2023.
A situação de Bolsonaro fica cada vez mais delicada. Ainda que ele siga tendo apoio significativo em parcelas da população, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sul, a série de derrotas jurídicas pode atrapalhar qualquer pretensão futura de disputar a presidência. Há analistas que já comentam, em jornais como a Folha e o Estadão, que a estratégia de defesa do ex-presidente tem se mostrado frágil diante da solidez das acusações.
De outro lado, opositores comemoram. Nas redes, parlamentares ligados à esquerda lembraram que o país não pode se acostumar com tentativas de ruptura democrática. Alguns chegaram a comparar o caso brasileiro com situações de outros países da América Latina, como o Peru, onde recentemente o ex-presidente Pedro Castillo foi afastado por tentar um golpe.
Flávio Bolsonaro, no entanto, insiste que tudo não passa de “criminalização do discurso político”. Para ele e aliados, o que está em jogo não são apenas os atos de Bolsonaro, mas a liberdade de expressão e a forma como o Judiciário tem interpretado os fatos. Essa linha de raciocínio encontra eco em parte da sociedade, que desconfia do STF e vê o tribunal como ator político, não apenas jurídico.
Com a decisão avançando, resta saber como será a reação popular. Protestos já começaram a ser organizados em algumas capitais, embora ainda em pequena escala. O cenário, de todo modo, é de tensão. E como se não bastasse, tudo isso acontece ao mesmo tempo em que o governo Lula tenta aprovar medidas econômicas importantes, como a taxação de fundos exclusivos e a reforma do Carf, o que acaba deixando o ambiente político ainda mais carregado.
Seja qual for o desfecho, a condenação de Jair Bolsonaro e dos demais réus marca um momento histórico. O STF envia um recado claro de que tentativas de subversão da ordem democrática não serão toleradas. Para os apoiadores do ex-presidente, no entanto, a narrativa continua sendo a de injustiça e perseguição. O embate, portanto, está longe de acabar.