Flávio faz forte desabafo e afirma que STF dará ‘a cabeça de Moraes na bandeja para o povo’

No último domingo (7), o Rio de Janeiro amanheceu em clima de mobilização política com o ato “Reaja, Brasil”, realizado em Copacabana. Quem puxou boa parte das atenções foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que não economizou recados diretos aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

O tom do discurso foi firme e recheado de provocações. Flávio deixou claro que a oposição não pretende aceitar o que chamou de “meia anistia”. Para ele, ou a medida alcança o ex-presidente Bolsonaro ou não deve sequer existir. “Anistia não é sobre pessoas, é sobre fatos. Não dá pra anistiar a Débora do Batom sem anistiar Bolsonaro”, disse ele, arrancando aplausos da plateia que lotava a orla.

O senador foi além e reforçou que não aceita a ideia de uma anistia eleitoral separada da criminal. A fala parecia ter endereço certo: um recado direto aos chefes do Legislativo. “Não deixem que o nosso Congresso seja novamente humilhado por Moraes”, disparou, citando o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, alvo constante de críticas de apoiadores do ex-presidente.

O clima, que já estava quente, ganhou ainda mais intensidade quando Flávio pediu para que os parlamentares não cedessem “à pressão covarde” do ministro. Ele apelou para que Câmara e Senado entrem para a história como instituições que ouviram as ruas, pacificaram o país e respeitaram a Constituição, em vez de se curvar “aos caprichos de ministros do STF”.

Em certo momento, o senador fez questão de detalhar que a oposição pretende apresentar ao Congresso um projeto de anistia amplo, abrangendo todos os investigados e processados desde o início do inquérito das fake news, ainda em 2019. Na visão dele, nenhum dos “perseguidos políticos”, como costuma chamar, deveria sofrer sanções penais, administrativas, civis ou eleitorais.

Como de costume, sobrou espaço para ataques pessoais. Flávio acusou Moraes de ter “traços de psicopatia” e chegou a afirmar que uma pessoa que não se importa nem com a própria família “não pode ser considerada normal”. A fala, claro, repercutiu nas redes sociais, especialmente no X (antigo Twitter), onde apoiadores de Bolsonaro compartilharam trechos do discurso em tom de desafio.

No encerramento, o senador fez uma previsão ousada: disse acreditar que os próprios ministros do Supremo irão “largar a mão” de Moraes. “O STF vai entregar a cabeça dele numa bandeja para o povo, porque já passou dos limites”, concluiu, arrancando gritos de apoio.

Vale lembrar que esse embate entre bolsonaristas e o STF não é de agora. Desde os atos de 8 de janeiro, que completaram recentemente um ano e meio, a relação ficou ainda mais tensa. Moraes, relator de diversos inquéritos que atingem aliados do ex-presidente, virou um dos principais alvos do campo bolsonarista.

E, como todo ato político em Copacabana, o evento misturou protesto com clima de festa. Bandeiras verde e amarelas, discursos inflamados e até carrinhos de pipoca se misturavam no cenário típico da praia carioca em dia de mobilização. Gente com camiseta da Seleção, famílias inteiras e até turistas curiosos paravam para observar o movimento.

No fim das contas, o ato deixou claro que o tema “anistia” deve ser um dos grandes embates da política nacional nos próximos meses. De um lado, a oposição tenta enquadrar o Congresso para incluir Bolsonaro e aliados em qualquer medida. Do outro, parlamentares mais cautelosos avaliam o risco de tensionar ainda mais a relação com o Judiciário.

Seja como for, a fala de Flávio Bolsonaro mostrou que o tom será de confronto. E, numa conjuntura em que as ruas continuam sendo palco de disputas simbólicas, Copacabana serviu mais uma vez como vitrine para medir forças entre o bolsonarismo, o STF e o Congresso.