Foi essa a reação de Lula ao tomar conhecimento que EUA considera usar força militar contra o Brasil

Nos últimos dias, um episódio envolvendo Brasil, Estados Unidos e o tema da liberdade de expressão acabou chamando atenção na cena política. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, decidiu se pronunciar sobre como o governo de Donald Trump pretende lidar com situações em que esse direito fundamental seja, na visão deles, desrespeitado em outros países. E a fala não foi nada leve: segundo ela, os EUA não hesitariam em usar tanto pressão econômica quanto, se preciso, até mesmo o seu poderio militar para defender a tal da “liberdade de expressão” mundo afora.

Esse discurso da Karoline surgiu depois que ela foi questionada por jornalistas sobre o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, que recentemente foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal junto com outros sete acusados. O processo aponta tentativa de golpe de Estado e uma série de crimes relacionados. Vale notar que Leavitt não citou o nome de Bolsonaro diretamente, mas deu uma resposta mais “genérica”, colocando a defesa da liberdade de expressão como um pilar da política externa norte-americana. Ainda assim, a leitura feita aqui no Brasil foi inevitável: todo mundo entendeu a indireta.

A repercussão, claro, não demorou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi perguntado sobre a fala da porta-voz da Casa Branca e não deixou barato. Com seu jeito direto, Lula classificou a declaração como uma bobagem. Para ele, o foco do Brasil deveria ser outro: paz, crescimento econômico e harmonia política, sem ficar alimentando polêmicas diplomáticas. “Eu quero paz e desenvolvimento. Eu quero paz e crescimento econômico. Eu quero paz e harmonia”, disse Lula em tom repetitivo, como costuma fazer quando quer dar ênfase em alguma ideia.

O presidente brasileiro ainda fez questão de esclarecer como pretende reagir a esse tipo de manifestação vinda de Washington. Segundo ele, o Brasil vai responder os EUA conforme forem surgindo novas declarações, mas deixou claro que, no caso específico de Karoline Leavitt, nem valeria a pena gastar energia. “Ontem, por exemplo, uma porta-voz falou uma bobagem. Eu não vou responder porta-voz”, cravou Lula, arrancando alguns risos entre apoiadores que estavam acompanhando.

Esse episódio abre espaço para algumas reflexões. Primeiro, mostra como a situação de Bolsonaro continua reverberando fora do país. Mesmo condenado pelo STF, ele ainda é citado (mesmo que indiretamente) em discussões diplomáticas de alto nível. O que, claro, gera constrangimento para o governo atual, que tenta virar a página e concentrar esforços em pautas econômicas e sociais mais urgentes, como a redução da desigualdade e a negociação de acordos internacionais, tipo o Mercosul-União Europeia, que anda emperrado.

Segundo ponto: a fala da porta-voz escancara mais uma vez o estilo da política externa dos Estados Unidos sob Trump. O tom de ameaça, seja militar ou econômica, não é novidade. Lembra muito o que já vimos em outros momentos da história, como nas pressões sobre países da América Latina e do Oriente Médio. A diferença é que agora o contexto é outro: temos uma guerra em andamento na Ucrânia, tensões crescentes na Ásia e, ainda por cima, os próprios EUA atravessando divisões internas bem profundas.

E, por último, vale observar a reação de Lula. O presidente tenta se equilibrar entre mostrar firmeza e, ao mesmo tempo, não criar crises diplomáticas desnecessárias. Afinal, o Brasil precisa dos EUA em várias frentes, seja em comércio, investimentos ou até nas negociações ambientais. Mas também não pode passar a impressão de subserviência. Nesse jogo de empurra, a estratégia de classificar a fala da porta-voz como “bobagem” soa como um recado: o Brasil está disposto a dialogar, mas não aceita ser tratado de cima pra baixo.

No fim das contas, esse embate verbal pode até parecer pequeno, mas ele ilustra bem o clima político atual. De um lado, Trump e seus porta-vozes reforçando o discurso duro dos EUA como “guardiões da liberdade”. Do outro, Lula tentando manter a calma e focar no que, segundo ele, realmente importa: paz e desenvolvimento para o Brasil.