Fotógrafo que foi demitido ao fotografar Alexandre de Moraes fazendo gesto obsceno faz forte desabafo: “Política”

O fotógrafo Alex Silva, 63 anos, não escondeu a frustração ao falar sobre sua saída do jornal O Estado de S. Paulo. Segundo ele, a repercussão política de uma foto que fez do ministro Alexandre de Moraes, do STF, foi um dos fatores que pesaram para sua demissão. A imagem, feita no dia 30 de julho, na Neo Química Arena, registrou o ministro fazendo um gesto obsceno em direção a torcedores, cena que acabou viralizando nas redes sociais.

Em entrevista ao portal Metrópoles, Alex contou que não ficou satisfeito com a forma como o jornal tratou o material.
— Eu acho que o jornal escondeu a foto. Reclamei com eles sobre isso. Botaram pouco espaço na home e não colocaram na capa — comentou, deixando claro seu incômodo.

O veterano da fotografia disse também que não recebeu nenhuma explicação sólida sobre sua performance profissional.
— Fico indignado, porque não apresentaram justificativa concreta pra minha demissão. Simplesmente disseram que o RH pediu pra me desligar — desabafou.

O caso, inevitavelmente, esquentou os debates nas redes, com gente de todos os lados políticos opinando. Não faltou quem visse nisso uma espécie de censura velada, enquanto outros consideraram apenas mais um episódio daquelas brigas internas comuns em redações. No meio disso, o próprio Alex, com mais de três décadas de experiência cobrindo desde jogos de várzea até eventos no Congresso, acabou sendo o centro de uma polêmica que não pediu para estar.

O Estadão, por sua vez, tratou de negar qualquer relação entre a demissão e a famosa foto. Em nota oficial, o jornal afirmou que a saída já estava prevista como parte de uma reestruturação na editoria de Fotografia e reforçou que a imagem foi considerada de “relevante valor jornalístico”. Disse ainda que ela foi publicada com destaque tanto no site quanto na versão impressa.

A declaração, no entanto, não acalmou totalmente os ânimos. Entre colegas de profissão, o sentimento era de que algo não bate. Alguns repórteres veteranos lembraram que, no passado, outros registros de figuras públicas em situações constrangedoras ganharam capas e chamadas mais chamativas. Já outros defendem que, com a pressão diária e o excesso de pautas, não dá pra transformar toda foto viral em manchete principal.

O episódio levanta novamente uma velha discussão: até que ponto decisões editoriais são puramente jornalísticas e quando começam a ser influenciadas por interesses políticos? Essa fronteira é tênue e, pra quem está de fora, nem sempre dá pra perceber. No caso de Alex, ele diz que a sua consciência está tranquila — fez o trabalho, entregou a foto e acredita que ela merecia mais destaque. “Se eu não registrar o que acontece, não estou cumprindo meu papel”, resumiu.

Enquanto isso, o gesto de Alexandre de Moraes segue circulando nas timelines, sendo reinterpretado e recontextualizado conforme a polarização política do país. Uns tratam como piada, outros como desrespeito à torcida e à instituição. No fim das contas, a imagem já cumpriu um dos papéis mais antigos do fotojornalismo: provocar reação.

O futuro de Alex Silva ainda é incerto, mas ele garante que não pretende pendurar as câmeras tão cedo. “Eu ainda tenho muito o que registrar. Foto é história congelada. E a história não para”, disse, com aquele misto de indignação e orgulho que só quem viveu anos no calor da notícia consegue transmitir.