Na quarta-feira passada, 30 de julho, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se viu numa situação pra lá de desconfortável. Assim que soube que seu nome apareceu na lista de sanções da chamada Lei Magnitsky, aplicada pelo governo dos Estados Unidos, ele tentou mobilizar os colegas de toga. Queria que todos assinassem uma carta conjunta em sua defesa. Mas o plano não saiu como ele esperava.
Segundo o portal Poder360, a maioria dos onze ministros achou que não pegaria bem o STF se posicionar oficialmente contra uma decisão do governo americano — e que isso soaria mais como um desabafo pessoal do que como uma manifestação institucional. O resultado: a tal carta coletiva foi por água abaixo. Para Moraes, essa negativa teria sido um verdadeiro balde de água fria. Ele esperava um gesto claro de apoio dos pares. Não veio.
Diante do impasse, resolveram divulgar uma nota mais neutra, protocolar até demais. O texto foi assinado por Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, e passou longe de citar diretamente os EUA. Um silêncio que, por si só, já falou muita coisa.
A fim de contornar o desgaste e tentar uma demonstração de “união”, o Palácio do Planalto tratou de organizar um jantar no Palácio da Alvorada, já na quinta (31). A ideia era simples: reunir o presidente Lula com os ministros do STF, num gesto semelhante ao que rolou após os ataques golpistas de 8 de janeiro do ano passado. Lula, inclusive, tinha em mente registrar uma foto com todos os magistrados reunidos — imagem que serviria de símbolo para reforçar a harmonia entre os Poderes.
Só que, mais uma vez, as coisas não saíram conforme o roteiro. Além de Moraes, só apareceram cinco ministros: Cristiano Zanin, Edson Fachin, Flávio Dino, Gilmar Mendes e o próprio Barroso. Outros cinco — André Mendonça, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Nunes Marques — optaram por não ir. A ausência chamou atenção e foi interpretada por muitos como um sinal de distanciamento do grupo em relação a Moraes, especialmente neste momento delicado.
Fachin, que está prestes a assumir a presidência do Supremo em dois meses, teria ido mais por obrigação do que por vontade própria. Fontes próximas ao magistrado dizem que ele avaliou que, por razões institucionais, não poderia faltar — até porque Alexandre será seu vice no próximo mandato à frente da Corte. Mesmo assim, ficou claro que o clima entre os ministros não anda dos melhores.
Nos bastidores, a avaliação é de que Moraes estaria arrastando o Supremo para uma rota de colisão que pode não ter retorno. As críticas à atuação dele, inclusive, têm crescido, tanto dentro como fora do país. A inclusão na lista de sanções dos EUA só aumentou essa percepção — e acendeu um sinal de alerta entre os demais ministros.
Tudo isso ocorre num momento em que o Brasil tenta manter uma imagem de estabilidade institucional perante o cenário internacional. Mas o episódio expôs rachaduras visíveis na mais alta Corte do país. E, convenhamos, não são poucas.
Enquanto isso, a tal carta nunca viu a luz do dia. E a foto da unidade idealizada por Lula ficou só no plano das intenções.