Numa fala marcada por ironia e firmeza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou sua participação no 60º Congresso da UNE, em Goiânia, nesta quinta-feira (17/7), pra responder de forma dura – mas também diplomática – a declarações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A bronca envolveu tanto a tentativa de defesa de Jair Bolsonaro (PL) quanto a imposição de uma tarifa pesada sobre produtos brasileiros.
Durante o evento estudantil, Lula fez questão de comentar o que considerou uma intromissão inaceitável do ex-presidente norte-americano nos assuntos internos do Brasil. Ele se referia a uma carta enviada por Trump ao governo brasileiro, na qual o republicano ameaça aplicar uma taxa de 50% sobre exportações brasileiras a partir de 1º de agosto, caso Bolsonaro não seja “libertado”.
“Além de pedir de forma desrespeitosa que a gente não mexesse com o Bolsonaro, ele ainda teve a cara de pau de dizer que nem é amigo do Bolsonaro. Ele falou na televisão: ‘não sou amigo dele, mas ele é boa gente, fez o bem pro Brasil’. Quer dizer, o cara quer se meter e ainda tenta tirar o corpo fora”, disse Lula, com um leve tom de sarcasmo, arrancando risos da plateia.
Lula, no entanto, deixou claro que não pretende entrar em conflito aberto com os EUA. Pelo contrário, segundo ele, a resposta do Brasil virá com civilidade e sob a ótica da democracia. “Nós vamos responder da forma mais civilizada possível. Como um democrata responde. Mas é bom deixar claro: nós não aceitamos que nenhum país de fora venha meter o bedelho nos nossos problemas. Isso aqui é problema nosso, do povo brasileiro”, disparou o presidente.
A carta de Trump, que já circula nos bastidores diplomáticos, alega que a relação comercial entre Brasil e EUA tem sido “muito injusta” devido às tarifas e barreiras impostas pelo Brasil. No texto, Trump relaciona essas tarifas àquilo que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro, que atualmente é réu no STF por conta da suposta tentativa de golpe em 2022, quando não aceitou o resultado das eleições.
O detalhe curioso (e que Lula não deixou passar batido) foi a declaração recente de Trump, feita no último dia 15 de maio. Durante uma entrevista, o ex-presidente americano disse com todas as letras que Bolsonaro “não é seu amigo”, embora o conheça e o respeite pelo que teria feito no governo. “Ele não é meu amigo, mas é alguém que conheço. Representa milhões de brasileiros, pessoas maravilhosas. Ama o Brasil e lutou muito por essas pessoas. Agora querem prendê-lo. Isso me parece uma caça às bruxas, e acho muito triste”, disse Trump na ocasião.
No fim das contas, Lula reforçou a importância de manter o respeito entre as nações e garantiu que o Brasil seguirá seus próprios caminhos. “Nós somos uma nação soberana. Se alguém aqui cometeu crime, vai ser julgado pelas leis do nosso país. Isso é democracia. Não vamos aceitar pressão de ninguém.”
Em meio ao clima de tensão diplomática e num cenário político ainda polarizado, o episódio serve como mais um capítulo da novela envolvendo Lula, Bolsonaro e agora, pra surpresa de muitos, Donald Trump. A pergunta que fica no ar é: até onde vai essa interferência estrangeira nos bastidores da política brasileira?