Foi com pesar que o Brasil recebeu a notícia do falecimento do renomado cineasta Cacá Diegues, aos 84 anos, na madrugada de uma sexta-feira. Nascido em Maceió no dia 19 de maio de 1940, Carlos José Fontes Diegues, conhecido artisticamente como Cacá Diegues, foi um dos grandes nomes do cinema brasileiro, deixando um legado que atravessou décadas, desde o final dos anos 1950 até 2018.
Cacá Diegues não apenas dirigiu filmes icônicos, mas também contribuiu significativamente para o movimento cinematográfico conhecido como Cinema Novo. Sua trajetória não se limitou às telas; ele também teve uma ativa participação na vida acadêmica e política do país. Estudou no Colégio Santo Inácio e depois ingressou no curso de Direito da PUC-Rio, onde se destacou como presidente do Diretório Estudantil.
Enquanto estava na universidade, Diegues iniciou sua jornada no cinema ao fundar um cineclube e colaborar com colegas como David Neves e Arnaldo Jabor. Além disso, sua atuação como editor do jornal O Metropolitano, vinculado à União Metropolitana de Estudantes, e sua participação no Centro Popular de Cultura da UNE evidenciam seu engajamento e interesse pela cultura e arte.
A década de 1950 marcou o surgimento do Cinema Novo, movimento que revolucionou a forma de fazer cinema no Brasil. Cacá Diegues foi um dos pioneiros desse movimento, ao lado de nomes como Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni e Joaquim Pedro de Andrade. Em 1961, dirigiu, em parceria com David Neves e Affonso Beato, o curta-metragem “Domingo”, uma das primeiras obras do Cinema Novo.
A carreira de Cacá Diegues como diretor solo decolou em 1962, quando dirigiu o episódio “Escola de Samba Alegria de Viver” no longa “Cinco Vezes Favela”. Sua visão crítica e inovadora o destacou no cenário cinematográfico nacional, tornando-o uma referência no cinema brasileiro.
No entanto, a vida de Diegues não foi apenas marcada por sucessos profissionais. Em meio a um período conturbado da história do Brasil, durante a ditadura militar, ele e sua primeira esposa, a cantora Nara Leão, tiveram que se exilar na Europa. O retorno ao Brasil na década de 1970 marcou a fase em que dirigiu filmes como “Quando o Carnaval Chegar” (1972) e “Joanna Francesa” (1973), que fizeram parte de sua filmografia de destaque.
Os anos 1970 foram particularmente frutíferos para Diegues, com filmes como “Xica da Silva” (1976), “Chuvas de Verão” (1978) e “Bye Bye Brasil” (1979) conquistando tanto a crítica quanto o público. Mesmo diante das dificuldades enfrentadas pelo cinema brasileiro nos anos 1980, Diegues continuou produzindo obras de relevância, como “Um Trem para as Estrelas” (1987) e “Dias Melhores Virão” (1989).
Além de sua contribuição para o cinema, Cacá Diegues teve uma vida pessoal marcada por relacionamentos significativos. Após o falecimento de Nara Leão em 1977, ele se casou com a produtora Renata Almeida Magalhães, com quem teve uma filha, Flora. A família sempre foi um pilar importante em sua vida, e ele deixa não só sua esposa e filhos, mas também três netos para dar continuidade ao seu legado.
A partir dos anos 1990, Diegues continuou a surpreender o público com filmes como “Tieta do Agreste” (1996) e “Deus é Brasileiro” (2003), mesmo em meio a desafios no cenário cinematográfico nacional. Seu trabalho foi reconhecido internacionalmente, com sete candidaturas ao Oscar em representação do Brasil, o que o torna um dos cineastas brasileiros mais bem-sucedidos nesse aspecto.
Em 2018, seu talento e contribuição para a cultura brasileira foram novamente reconhecidos ao se tornar membro da Academia Brasileira de Letras. Sua passagem deixa uma lacuna no cenário artístico nacional, mas seu legado perdurará através de suas obras imortais e da inspiração que ele proporcionou a gerações futuras de cineastas. Cacá Diegues não será apenas lembrado como um grande diretor, mas como um visionário que ajudou a moldar a história do cinema brasileiro.