Síndrome de Moyamoya: Saiba detalhes da doença que aumenta riscos de AVC

A síndrome de Moyamoya é uma daquelas doenças que poucas pessoas já ouviram falar, mas que pode mudar completamente a vida de quem recebe o diagnóstico. Trata-se de uma condição cerebrovascular rara, que vai estreitando aos poucos as artérias do cérebro, até que em alguns casos quase não passa sangue por ali. Para tentar compensar esse bloqueio, o próprio corpo cria uma espécie de “atalho”: pequenos vasinhos finíssimos, que funcionam como se fossem desvios improvisados para manter o fluxo sanguíneo. O problema é que essas ramificações são frágeis e podem se romper com facilidade, aumentando bastante o risco de AVC.

A médica integrativa Paula Vinha, de São Paulo, explica que a doença pode gerar derrames, sangramentos e outros problemas neurológicos sérios, como convulsões e até fraqueza motora. Segundo ela, “o único tratamento realmente eficaz é a cirurgia de revascularização, que busca melhorar a chegada de sangue ao cérebro e reduzir os sintomas”.

O nome Moyamoya vem do japonês e significa algo como “nuvem de fumaça”. Essa comparação se deve ao aspecto nebuloso que os vasos recém-formados apresentam nos exames de imagem. Curiosamente, foi justamente no Japão que a condição foi descrita pela primeira vez, em 1957. Até hoje, a maior parte dos casos ainda é registrada em países asiáticos, embora a doença já esteja sendo diagnosticada em diferentes lugares do mundo, inclusive no Brasil.

Sintomas e manifestações

Os sinais da Moyamoya variam bastante, mas existem alguns mais comuns. Convulsões recorrentes, dores de cabeça persistentes, desmaios, dificuldades para falar e alterações na memória ou no raciocínio chamam a atenção. Também pode haver perda de sensibilidade em partes do corpo, lapsos de consciência e problemas motores.

A síndrome costuma aparecer em dois períodos críticos da vida: entre 5 e 10 anos de idade e, novamente, entre os 30 e os 40 anos. Em crianças, as consequências podem ser ainda mais duras, já que episódios repetidos de isquemia ou hemorragia cerebral atrapalham o desenvolvimento e a aprendizagem.

Diferença entre doença e síndrome

Existe uma distinção importante que muitas vezes passa despercebida: a chamada doença de Moyamoya é a forma primária, que surge sem causa conhecida. Já a síndrome de Moyamoya é considerada secundária, pois geralmente está associada a outra condição de saúde. Entre as doenças relacionadas, estão o lúpus, alterações genéticas como a síndrome de Down e a de Turner, além de distúrbios hematológicos como a anemia falciforme.

Por isso, o diagnóstico exige investigação detalhada. Não basta identificar os vasos alterados nos exames: é preciso entender se o estreitamento está acontecendo por conta própria ou se vem acompanhado de outra enfermidade de base.

Como diagnosticar e tratar

O exame considerado padrão-ouro é a angiografia cerebral, que mostra em detalhes a circulação do sangue e os tais vasos em formato de “fumaça”. A ressonância magnética também pode ajudar a avaliar se já houve danos no tecido cerebral.

Quando a síndrome é confirmada, não dá para perder tempo. Como o risco de AVC é alto, a recomendação é partir para a cirurgia de revascularização. A técnica cria novos caminhos para o sangue circular no cérebro, o que reduz bastante as chances de derrames futuros. Ainda que não exista cura definitiva, o procedimento costuma melhorar a qualidade de vida e diminuir a frequência dos eventos neurológicos.

Um olhar mais humano

Embora seja rara, a Moyamoya traz à tona discussões maiores sobre acesso à saúde. No Brasil, muitos pacientes enfrentam dificuldades para conseguir o diagnóstico precoce, já que os sintomas podem ser confundidos com outras doenças neurológicas. Em tempos em que o SUS vive sobrecarga e falta de investimento, o caminho entre sentir os primeiros sinais e chegar à cirurgia pode ser longo demais.

E aqui entra um detalhe que vale lembrar: estamos em 2025 e, com os recentes debates sobre inteligência artificial aplicada à medicina, há uma esperança de que algoritmos possam ajudar a identificar casos raros como a Moyamoya mais cedo, reduzindo sequelas.

No fim das contas, por mais que a ciência avance, ainda estamos falando de vidas que dependem de rapidez, cuidado contínuo e um olhar atento. Porque, quando o assunto é o cérebro, cada minuto pode fazer diferença.