Todo mundo vai usar Bolsonaro e depois descartá-lo; entenda detalhes

A prisão de Jair Bolsonaro, que mais parece cena de série política do que realidade, sacudiu Brasília e botou todo mundo pra se perguntar: será que agora vai dar ruim de verdade? Vai travar o Congresso? Vai dar crise institucional daquelas de parar o país?

Pois é, a resposta é mais complicada do que parece. Conversei com gente graúda de todos os lados — da esquerda ao centrão e, claro, dos bolsonaristas também — e o que deu pra perceber é o seguinte: ninguém quer se queimar à toa. Todo mundo vai tentar tirar uma casquinha da situação, mas sem se jogar na fogueira pelo ex-presidente.

A política hoje tá dividida em três blocos bem definidos: a direita bolsonarista, que segue fiel mas já começa a se perguntar até onde vale ir por ele; o centrão, que tá sempre com quem oferece mais; e a esquerda, que vê nisso tudo uma chance de reforçar a narrativa de que Bolsonaro sempre foi uma ameaça à democracia. Nesse caldeirão, cada um cozinha o que lhe convém.

O governo, esperto, guardou uns bons bilhões em emendas parlamentares pra negociar apoio no Congresso. Afinal, 2026 já tá logo ali e ninguém quer perder a boquinha. Deputado e senador pensam primeiro na própria reeleição — e só depois no país, se der tempo.

E olha, pode apostar: ninguém vai dar a vida pra defender Bolsonaro agora. Ficar batendo boca com o STF, pedir impeachment de ministro? Isso só atrai problema. Ninguém quer virar alvo da Polícia Federal ou se complicar com o Supremo. O clima é mais de apagar incêndio do que de botar fogo — tem mais bombeiro do que piromaníaco em Brasília.

Claro que o Congresso não vai simplesmente fazer cara de paisagem. A pressão sobre os presidentes da Câmara e do Senado — Hugo Motta e Davi Alcolumbre, respectivamente — vai ser enorme. Vão tentar empoderar mais o Legislativo, mas tudo será negociado nos bastidores, e sempre com cautela. Nada de romper com o STF ou votar anistia de cara. Essas pautas devem ser usadas como moeda de troca, e não por convicção.

Aliás, essa conversa de anistia pra Bolsonaro é ótima pra barganhar. É o discurso perfeito pra muitos parlamentares que querem arrancar algo do governo ou até mesmo se promover nas suas bases eleitorais. Mas é só isso: um discurso. Na prática, quando conseguirem o que querem, largam Bolsonaro na estrada como quem esquece uma mala velha.

E o próprio Bolsonaro, cá entre nós, sempre jogou esse jogo. Quando o assunto é proteger o clã, ele vira outro. No depoimento recente ao Alexandre de Moraes, por exemplo, o leão virou um gatinho pedindo desculpa. Chamou de maluco quem seguiu ordens dele e fingiu que nunca teve nada a ver com a história.

O governo, por sua vez, tem mais é que se preocupar com sua base. Porque pra aprovar qualquer coisa relevante no segundo semestre — reforma tributária, projetos econômicos, ou mesmo medidas populares — vai ter que suar. E isso não é por causa de Bolsonaro, mas porque a base tá desorganizada e o apoio no Congresso é frágil.

Enfim, a prisão do ex-presidente não parou Brasília. Pelo contrário: acelerou os bastidores. Mas, como sempre, cada um ali vai jogar o jogo pensando em si — e Bolsonaro, hoje, mais serve de escada do que de líder.