Na última quinta-feira, dia 4, em Belo Horizonte (MG), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a chamar atenção com um discurso que levantou debates e dividiu opiniões. O motivo foi sua fala durante o lançamento do programa Gás do Povo, uma iniciativa voltada para ajudar famílias de baixa renda a comprarem o botijão de gás, que, diga-se de passagem, anda pesando cada vez mais no bolso dos brasileiros.
O petista soltou uma frase que, no mínimo, soou polêmica: segundo ele, para que o Brasil dê certo, é necessário “garantir que muitos tenham pouco dinheiro”. A declaração caiu como uma bomba nas redes sociais, gerando discussões entre apoiadores e críticos do governo.
— Os ricos não precisam do país, os ricos quando vão pegar dinheiro, pegam logo muito, mas o pobre precisa de pouco dinheiro. É por isso que eu digo: um país para dar certo, ele precisa garantir que muitos tenham pouco dinheiro. Ele está errado quando precisa garantir que poucos tenham muito dinheiro — disse Lula, sob aplausos de parte do público presente.
A fala se encaixa no velho discurso de luta de classes que o presidente repete desde os anos 80, quando ainda era líder sindical. Para ele, a economia deve girar em torno de garantir acesso mínimo a todos, em vez de concentrar riqueza nas mãos de uma pequena elite. No entanto, a maneira como a frase foi construída acabou dando margem para interpretações diversas — alguns enxergaram um raciocínio confuso, outros viram ali uma visão clara sobre distribuição de renda.
Logo depois, Lula tentou explicar melhor sua linha de pensamento: “Se poucos tiverem muito dinheiro, significa que a maioria não tem. E se muitos tiverem pouco dinheiro, todo mundo tendo um pouco, a gente não vai precisar criar programa de dar gás de graça. A gente vai fazer com que vocês tenham dinheiro para comprar o gás de vocês”.
O curioso é que esse raciocínio bate de frente com discussões recentes sobre desigualdade social no Brasil. Dados divulgados pelo IBGE em agosto mostraram que a concentração de renda continua altíssima: 1% dos mais ricos ainda abocanha cerca de 25% de toda a renda do país. Essa realidade reforça a narrativa de Lula de que é preciso dividir melhor os recursos, mas também levanta a pergunta: até onde programas assistenciais conseguem resolver o problema sem mudanças estruturais?
Críticos mais ferrenhos, especialmente da oposição no Congresso, acusaram o presidente de defender a “pobreza generalizada”, como se o ideal fosse todos terem pouco, em vez de elevar o padrão de vida da população. Parlamentares ligados à direita ironizaram nas redes sociais, dizendo que Lula prefere nivelar por baixo. Já apoiadores rebateram, alegando que a fala foi tirada do contexto e que a intenção do petista era reforçar a ideia de inclusão social.
Não é de hoje que Lula aposta em frases de efeito que viram assunto nos jornais do dia seguinte. Durante a campanha de 2022, por exemplo, chegou a dizer que “é melhor todo mundo ganhar um pouquinho do que poucos ficarem milionários”, algo que também gerou críticas. No fundo, esse estilo direto, às vezes meio truncado, é parte do que mantém a identidade política dele.
O lançamento do programa Gás do Povo, em si, acabou ficando em segundo plano diante da repercussão da fala. Mas vale destacar que o objetivo da iniciativa é subsidiar o preço do botijão de gás para famílias que vivem com renda limitada. Em muitas comunidades, o valor do gás já ultrapassa R$ 120, um custo que compromete boa parte do orçamento doméstico. Não à toa, cresce o número de famílias que recorrem a lenha ou carvão, o que traz riscos à saúde e à segurança.
No fim das contas, o episódio mostra, mais uma vez, como o presidente consegue pautar o debate público. Seja por frases mal interpretadas, seja pela forma crua de colocar suas ideias, Lula mantém a capacidade de dividir opiniões e obrigar o país a discutir temas como desigualdade, renda e assistência social. E em tempos de gasolina cara, inflação dando sinais de resistência e discussões sobre reforma tributária, essas falas ganham ainda mais peso.