Um novo vídeo obtido pelo portal Metrópoles trouxe outro ângulo da execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, de 64 anos. O crime aconteceu na noite desta segunda-feira (15/9), em Praia Grande, no litoral sul do estado. Ele foi morto a tiros por criminosos, e a principal linha de investigação aponta para o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que há anos o considerava um inimigo direto.
Durante a ação, outras duas pessoas acabaram feridas. Segundo a Prefeitura de Praia Grande, uma mulher sofreu apenas ferimentos leves e já recebeu alta, enquanto um homem segue internado no Hospital Municipal Irmã Dulce, mas sem risco grave.
O vídeo mostra o carro do ex-delegado já capotado, ao lado de um ônibus, e os criminosos descendo armados do veículo que seguia atrás. Motociclistas que passavam na hora abandonaram as motos e se esconderam atrás de carros, numa cena de pânico que lembra até aquelas séries policiais que a gente assiste, mas infelizmente é a realidade das ruas de São Paulo.
Uma fonte ligada à cúpula da Segurança Pública paulista declarou ao Metrópoles que o caso foi, sim, “uma vingança do PCC”. Segundo essa autoridade, Ruy sempre foi linha dura contra a facção, não hesitava em bater de frente, o que acabou custando a vida dele.
O ataque
Câmeras de segurança registraram tudo. Ruy dirigia em aparente fuga quando colidiu contra um ônibus, o carro capotou e ele ficou preso. Na sequência, bandidos desceram de outro automóvel e dispararam várias vezes contra o veículo. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu logo depois.
Em resposta imediata, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou o envio de uma força-tarefa com mais de 100 policiais para o litoral, numa operação que busca identificar e prender os responsáveis. O carro usado na execução foi encontrado queimado poucas horas após o crime, numa clara tentativa de apagar pistas. As autoridades investigam se um segundo veículo também teria participado.
Reações
O secretário Derrite afirmou que a prioridade agora é capturar os envolvidos. O procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, ofereceu o apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Outras autoridades também se manifestaram. O secretário de Segurança Urbana de São Paulo, Orlando Morando, publicou nota de pesar nas redes sociais, destacando o legado de Ruy. Já o deputado estadual Delegado Olim (PP) prometeu “caçar” os autores do atentado.
Quem foi Ruy Ferraz Fontes
Com quatro décadas de carreira, Ruy ficou conhecido pela dedicação ao combate ao crime organizado. Foi jurado de morte em 2019 por Marcola, líder máximo do PCC, após a transferência do criminoso para o sistema penitenciário federal.
Além da trajetória como delegado, Ruy tinha formação em Administração Pública, participou de cursos internacionais sobre drogas e terrorismo — na França e no Canadá — e foi professor de criminologia e investigação policial. Ele comandou delegacias de peso como o DHPP, Denarc e o Deic, além de ter ocupado o cargo mais alto da Polícia Civil, a Delegacia Geral. Desde 2023, atuava como secretário de Administração de Praia Grande.



Inimigo nº 1 do PCC
Ruy se destacou como uma das principais pedras no sapato da facção criminosa. Desde os anos 2000, quando o PCC ainda era pouco reconhecido oficialmente, ele já denunciava e enfrentava a atuação do grupo. Em 2006, quando São Paulo viveu uma onda de ataques violentos, a experiência dele foi fundamental para organizar a resposta da polícia.
A diretora da Adepol do Brasil, Raquel Gallinati, resumiu bem: “Ruy foi um dos melhores Delegados-Gerais que conheci, enfrentou o PCC de frente e impôs grandes prejuízos ao crime organizado. Infelizmente, pagou com a própria vida.”
A morte de Ruy Ferraz Fontes não é só mais uma notícia policial. É o retrato de como o crime organizado segue forte, mesmo com décadas de enfrentamento. E deixa claro o tamanho do desafio que autoridades e sociedade ainda têm pela frente.