Nos últimos dias, uma situação envolvendo a backing vocal e dançarina Bianca Alencar, da equipe da dupla Zezé Di Camargo & Luciano, gerou uma onda de críticas nas redes sociais e reacendeu o debate sobre preconceito regional, mais especificamente, xenofobia. A confusão começou depois que Bianca fez comentários considerados ofensivos sobre a comida típica da cidade de Floresta, no sertão de Pernambuco.
Durante uma passagem da equipe pela cidade — que tava em festa pelo seu aniversário — Bianca gravou stories no Instagram onde falou de forma bem negativa sobre o almoço que foi servido. Segundo ela, a comida era parecida com “lavagem de porcos”, expressão pejorativa usada pra se referir à mistura de restos de comida usada pra alimentar suínos. “Paguei e não comi. Não dá! Parecia lavagem”, disse ela no vídeo, com um tom de desgosto claro.
A fala pegou mal, muito mal. A cidade, que se preparava para receber o show da dupla como parte das comemorações, acabou vendo a alegria do evento ser manchada pela polêmica. E o que mais incomodou parte da população foi o fato dela ter feito pouco caso de um prato típico local: o arroz mexido, que aliás, é bastante apreciado por moradores e visitantes.
A reação nas redes foi imediata. Influenciadores, políticos locais, chefs de cozinha e muitos usuários comuns saíram em defesa da cidade e da culinária nordestina, que carrega história, tradição e resistência em cada prato. Algumas pessoas chegaram até a pedir que Bianca fosse retirada da equipe de Zezé & Luciano. Outros pediram um pedido de desculpas mais formal — que demorou um pouco a aparecer.
Depois da avalanche de críticas, Bianca voltou às redes sociais e publicou um novo vídeo tentando explicar a situação. Disse que o objetivo era compartilhar os “perrengues das estradas”, como quem tá mostrando os bastidores da rotina de shows. Ela também mencionou que tem origem nordestina, como forma de argumentar que não teria intenção de ofender ninguém. “Tenho sangue nordestino, jamais quis faltar com respeito”, disse ela, meio sem convencer muito.
A situação não parou por aí. Internautas foram vasculhar outros conteúdos antigos da artista e começaram a levantar a questão: até que ponto o preconceito contra o Nordeste e suas tradições ainda é normalizado? Não é a primeira vez que figuras públicas fazem comentários desrespeitosos sobre sotaques, comidas ou costumes nordestinos, e infelizmente, talvez não seja a última.
O show da dupla, vale dizer, aconteceu normalmente na noite do dia 19 de junho, como parte da programação do aniversário da cidade. Teve também apresentações culturais, atividades para a comunidade e o famoso corte do bolo gigante que já é tradição na cidade. Apesar do desconforto causado pela fala de Bianca, os moradores de Floresta mostraram maturidade e seguiram celebrando sua cultura com orgulho.
Esse caso, por mais desagradável que seja, acabou servindo pra algo maior: lembrar que respeito é essencial, ainda mais quando se fala de cultura popular. A comida nordestina, pra muita gente, é mais do que alimento. É memória, é afeto, é resistência. E isso, ninguém tem o direito de desmerecer.
No fim das contas, o que sobra é a reflexão: o Brasil é grande demais pra gente continuar tratando a diversidade como piada. Se a estrada é longa e cheia de desafios, respeito é o mínimo pra quem vive dela — e pra quem vive dela falando pros outros.