Pelo terceiro ano seguido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por não comparecer à Marcha para Jesus em São Paulo, evento que ocorre nesta quinta-feira (19), aproveitando o feriado de Corpus Christi. Apesar do convite feito pela organização, Lula novamente não marcou presença — e, como das outras vezes, não explicou o motivo da ausência.
A Marcha é um dos maiores eventos religiosos do país e costuma reunir multidões. Só nesta edição, a estimativa é de dois milhões de fiéis desfilando pelas ruas da capital paulista em um grande ato de fé, louvor e manifestação política. Sim, política também, porque nos últimos anos o evento se tornou um ponto de contato direto entre líderes evangélicos e figuras de destaque da política nacional.
Sem Lula, quem foi representá-lo — mais uma vez — foi o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias. Evangélico, Messias também esteve presente em outras edições, inclusive em 2023, quando foi vaiado ao citar o nome do presidente no palco montado no centro da cidade. As vaias daquele momento ainda ecoam entre os apoiadores do governo, que viram o episódio como um sinal claro da rejeição do eleitorado evangélico ao petista.
Mesmo assim, Messias voltou. Desta vez, sem grandes incidentes. É verdade que não houve aplausos calorosos, mas também não se repetiu o clima hostil do ano anterior. Talvez o gesto do apóstolo Estevam Hernandes, fundador da Igreja Renascer em Cristo e principal organizador da Marcha, tenha ajudado a acalmar os ânimos. No ano passado, ele chegou a abraçar Messias no palco e pedir por “dias melhores” para o Brasil — o que soou como uma tentativa de apaziguar tensões entre o mundo evangélico e o Planalto.
A ausência do presidente, no entanto, continua gerando desconforto em alguns setores do próprio governo. Tem gente que acredita que Lula poderia usar a ocasião como uma chance de aproximar-se desse público, que representa hoje cerca de 30% da população brasileira, segundo dados atualizados do Censo 2022. E não é pouca coisa: o eleitorado evangélico tem sido visto como decisivo nas últimas eleições, e certamente será alvo de disputa em 2026.
Enquanto isso, outras lideranças políticas compareceram com entusiasmo. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), marcou presença ao lado do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB). Ambos foram recebidos com simpatia e caminharam com os fiéis ao longo do percurso. Tarcísio, que já é visto como possível nome para a corrida presidencial, tem investido pesado nesse diálogo com os evangélicos — e a Marcha foi mais uma vitrine pra isso.
O governo Lula, por sua vez, tem adotado uma estratégia mais discreta. Além do envio de Messias, há articulações internas para estabelecer pontes com lideranças evangélicas moderadas e menos alinhadas à oposição. Fontes próximas ao Palácio do Planalto dizem que a ordem é baixar o tom e construir diálogo sem forçar a barra. Mas o caminho é longo.
Por ora, o presidente mantém sua distância — talvez por convicção, talvez por cálculo político. O fato é que ignorar eventos de grande peso simbólico como a Marcha pode sair caro, especialmente quando o jogo eleitoral começa a esquentar. E, convenhamos, em tempos de redes sociais, qualquer ausência acaba virando presença… negativa.
Se Lula quer mesmo diminuir a rejeição entre os evangélicos, vai ter que fazer mais do que mandar representantes. Por mais preparados que sejam, não é a mesma coisa. A fé, no fim das contas, também é feita de gestos — e presença importa.