O Brasil acordou mais triste nesta sexta-feira (8). Morreu, aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz, figura que não só ajudou a escrever capítulos importantes do samba, mas também viveu cada verso como se fosse parte da própria história. Conhecido entre amigos e fãs como o “Sambista Perfeito”, Arlindo deixa um legado artístico que atravessa décadas e que, segundo a Folha Econômica, se traduz também num patrimônio estimado entre 20 e 30 milhões de reais.
Essa herança, claro, vai além do valor em dinheiro. Mas, falando do lado material, o montante deve ser dividido entre a esposa, Bárbara Cruz, e os três filhos — Arlindinho, Flora e Kauan. Espera-se que a partilha seja igualitária, embora até agora não haja confirmação oficial. Como sempre acontece nesses casos, o assunto ainda deve render conversas, advogados e, quem sabe, até alguma polêmica que o público vai acompanhar pela imprensa.
A trajetória de Arlindo já vinha sendo marcada por um longo silêncio forçado. Desde 2017, quando sofreu um AVC, ele ficou afastado dos palcos, enfrentando uma luta diária pela recuperação. Amigos próximos dizem que, mesmo limitado fisicamente, o sambista nunca deixou de acompanhar o que acontecia no mundo da música. Nas redes sociais, a notícia da morte se espalhou rapidamente, gerando uma onda de homenagens. Fãs, músicos, compositores e até políticos deixaram mensagens, alguns relembrando encontros, outros compartilhando vídeos antigos — um verdadeiro mosaico de lembranças.
Nascido no Rio de Janeiro, Arlindo começou cedo a se aventurar na música. Adolescente ainda, já dominava instrumentos e mostrava habilidade para compor letras que pareciam ter vida própria. O grande ponto de virada veio no início dos anos 1980, quando ele entrou para o Fundo de Quintal. Na época, o grupo era a grande vitrine do pagode e do samba de raiz, e a chegada de Arlindo ajudou a renovar e, ao mesmo tempo, preservar as tradições do gênero.
Ao longo de mais de quatro décadas, o sambista escreveu mais de 500 músicas. Entre elas, pérolas que hoje são praticamente hinos, como O Show Tem Que Continuar, Meu Lugar e O Bem. Muitas dessas canções ganharam força na voz de outros intérpretes, provando que Arlindo não era apenas um artista preocupado com o próprio brilho, mas um verdadeiro parceiro de ofício.
E se alguém pensa que ele era só um músico de estúdio, está enganado. Arlindo era presença constante nas rodas de samba, nas feijoadas de domingo e até nas lives durante a pandemia — quando a tecnologia virou o único jeito de reunir gente para cantar junto. Ele sempre fazia questão de ressaltar a importância de manter o samba vivo, não como peça de museu, mas como expressão pulsante da cultura brasileira.
Sua morte representa uma perda que vai além da música. Arlindo era um elo entre o passado e o futuro do samba, alguém que guardava histórias de mestres como Candeia e Nelson Sargento, mas que também acreditava no talento de novos compositores que surgiam na Lapa, em Madureira ou em qualquer esquina com um pandeiro e um cavaquinho.
Agora, ficam as lembranças, as melodias e a sensação de que o Brasil perdeu um pedaço de si. Mas, como ele mesmo dizia num de seus versos mais conhecidos, “o show tem que continuar”. E vai continuar, porque sua obra é daquelas que não morrem — apenas mudam de endereço, passando a morar na memória e no coração de quem ama samba.