Mulher de Arlindo Cruz permaneceu ao lado do sambista até o fim

Babi Cruz, aos 62 anos, esteve presente em cada passo da jornada de recuperação de Arlindo Cruz. O sambista, ícone do gênero e amado por gerações, travava desde março de 2017 uma longa batalha contra as sequelas de um AVC (acidente vascular cerebral). Infelizmente, neste triste dia, aos 66 anos, Arlindo nos deixou, no Rio de Janeiro, cercado pelo carinho de familiares e amigos.

Mesmo com críticas e olhares atravessados que recebeu no início deste ano, quando decidiu assumir um novo relacionamento, Babi nunca se afastou de sua missão: cuidar de Arlindo. Continuou ali, firme, participando das decisões médicas, acompanhando tratamentos, estando ao lado nos momentos bons e, principalmente, nos mais difíceis. Quem acompanhava de perto sabe — não faltaram abraços, beijos e declarações públicas de afeto.

A história do AVC de Arlindo começou num momento que deveria ser só alegria. Era março de 2017, e ele se preparava para subir ao palco com o filho, Arlindinho, no projeto “Pagode 2 Arlindos”, em Osasco (SP). A expectativa era de festa, música e samba no pé, mas a vida, como sempre, tem seus próprios planos. Depois desse dia, veio uma rotina completamente diferente — fisioterapia, consultas, adaptações em casa e uma luta diária que durou sete anos.

O amor entre Babi e Arlindo tem raízes antigas. Eles se conheceram quando ela tinha apenas 15 anos, ainda uma adolescente sonhadora. Naquela época, Babi se apresentava no Asa Branca Lapa, a convite da grande Beth Carvalho. E lá estava Arlindo, entre o público, prestando atenção à moça que mais tarde se tornaria sua companheira de vida.

Oficializaram a união apenas em 2012, depois de mais de duas décadas juntos. Em entrevista à revista Caras, Arlindo foi claro: “Acho fundamental o casamento, até como exemplo para meus filhos da importância da família.” E família eles construíram — dois filhos: Flora, hoje com 20 anos, e Arlindinho, com 31. E claro, além do laço sanguíneo, um legado musical que continuará ecoando.

Mas a vida não foi só de vitórias e prêmios. Entre os altos e baixos, eles mostraram que amor de verdade é também resistência. Tanto que, em 2022, comemorando dez anos do casamento, decidiram renovar os votos. Foi uma festa bonita, no espaço Lajedo, na Zona Oeste do Rio, com direito a música, alegria e aquela energia boa que só quem vive de samba entende.

Babi, sempre com seu jeito direto, relembrou à revista Quem: “Fiquei noiva em 13 de setembro de 1986. Eu tinha 15 anos. E casei no dia 13 de maio de 2012. Fiquei noiva durante 26 anos [risos]. No ano em que casei, até avó eu fui.” A fala, carregada de leveza e humor, mostra bem como ela encara a vida: sem perder o sorriso, mesmo diante dos desafios.

Hoje, ao olhar para essa história, é impossível não lembrar de como Arlindo era mais que um músico. Ele era um contador de histórias através de suas letras, alguém que transformava experiências em samba, que sabia falar da dor e da alegria com a mesma intensidade. Quem esteve no Maracanã no último Carnaval talvez tenha se emocionado ao ver imagens dele sendo homenageado, lembrando que o samba, apesar das perdas, segue vivo.

A despedida de Arlindo Cruz é também um lembrete de que a vida é feita de ciclos. E nesse ciclo que se encerra, fica o exemplo de companheirismo, de amor duradouro e de resistência. Babi Cruz seguiu até o fim, como prometeu lá atrás, no altar — e, mesmo que as críticas venham, ninguém pode tirar dela a história que construiu ao lado de um dos maiores sambistas do Brasil.

O samba hoje chora, mas também agradece. Porque, entre versos e acordes, Arlindo deixou muito mais que música — deixou vida.