O velório de Arlindo Cruz (1958–2025), um dos nomes mais queridos e respeitados do samba, acontece neste sábado, 9 de agosto de 2025, a partir das 18h, na quadra da escola de samba Império Serrano, em Madureira, zona norte do Rio. A escolha do local não é por acaso: ali, Arlindo viveu incontáveis momentos, compondo, ensaiando e celebrando a cultura do samba.
Diferente de uma cerimônia tradicional, a despedida será no formato de gurufim, um ritual de origem africana que mistura luto e festa, lágrimas e sorrisos, despedida e memória viva. Não é só um adeus, é também um brinde à trajetória de quem parte. O evento será aberto ao público e vai atravessar a madrugada, seguindo até às 10h da manhã do domingo, 10 de agosto.
Gurufim: mais que um funeral, um encontro de vida
Pra quem nunca ouviu falar, o gurufim é uma espécie de “festa de despedida” que combina música, dança, cânticos e bebida, criando um clima de comunhão e resistência. Essa tradição veio ao Brasil junto com os africanos escravizados e ganhou força em comunidades ligadas ao samba e a religiões como o candomblé e a umbanda.
O historiador Luiz Antônio Simas costuma dizer que o gurufim é uma maneira de “enganar a morte” — ou seja, transformar a dor numa homenagem viva, lembrando o que foi bom, e não só o fim. É aquela velha máxima: quem canta, seus males espanta… até mesmo o luto.
A partida do mestre
Arlindo nos deixou na sexta-feira, 8 de agosto de 2025, aos 66 anos, por falência múltipla dos órgãos. Desde abril, ele estava internado no hospital Barra D’Or, na Zona Oeste do Rio. A saúde dele já era delicada desde 2017, quando sofreu um AVC hemorrágico que o afastou dos palcos e mudou completamente sua rotina.
Mesmo com as limitações, Arlindo nunca deixou de sorrir e de receber visitas com o mesmo carinho de sempre. Agora, sua ausência física deixa um vazio imenso, não só para o samba, mas para a música brasileira como um todo.
Um último pedido: roupas claras e coração aberto
A família pede que todos que forem prestar a última homenagem usem roupas claras. É uma forma simbólica de celebrar a luz, a alegria e a energia que Arlindo espalhou durante toda a sua caminhada. Nada de preto carregado — a ideia é que a despedida tenha a cara dele: colorida, cheia de música e abraços apertados.
A cerimônia contará com a presença de amigos, parceiros musicais, familiares e, claro, uma multidão de admiradores. Não vai faltar roda de samba, chorinho improvisado e talvez até alguma velha história sendo contada ao pé do ouvido, como tantas vezes aconteceu nas madrugadas cariocas.
Em comunicado, a família escreveu:
“A família de Arlindo Cruz convida, com pesar e muito carinho, todos os amigos, fãs e admiradores para a última homenagem ao nosso querido Arlindo. O velório será neste sábado (9/08), a partir das 18h, na quadra do Império Serrano. O sepultamento será no domingo (10/08), às 11h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.”
E reforçaram o pedido:
“Se possível, que todos venham de roupas claras, como símbolo da luz e da alegria que ele espalhou por toda a sua vida. Agradecemos profundamente por todo o carinho e mensagens recebidas. Com amor, Família Cruz.”
Arlindo se despede como viveu: cercado de samba, de amor e de gente. Como dizia um de seus versos, “não deixe o samba morrer” — e, nesse sábado, Madureira vai provar que essa promessa será cumprida.